sábado, abril 30, 2005

IBNL reedita obra de Pedro Cardoso

A iniciativa é do Ministério da Cultura e do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Em 2005, será lançada a reedição da obra de Pedro Monteiro Cardoso (1890-1942), poeta e jornalista foguense. O projecto abarca a reedição de números da Revista Manduco, de que Cardoso foi editor e fundador, e ainda um apêndice sobre a vida e obra do poeta djarfoguense. “Trata-se de um ensaio sobre a vida do poeta, com extractos de sua obra poética e em prosa, realçando os aspectos mais importantes da personalidade dele, como a utilização e defesa da língua cabo-verdiana, a questão da autonomia social e cultural das ilhas face a Portugal”, explica Filinto Elísio, coordenador da obra.

No livro, que se chamará Manduco: Vida e Obra de Pedro Cardoso, o poeta também será retractado pela sua africanidade, patente em seu pseudónimo, Afro, e pela consciência e valorização do folclore cabo-verdiano, aliás tema de um livro, com o mesmo nome, lançado em 1933. Assim como o seu contemporâneo Eugénio Tavares, Cardoso foi um escritor bilingue. Mas destacou-se como um defensor intransigente do kriolu, envolvido em polémica constante por causa desta matéria. O que lhe trouxe muitos dissabores, uma vez que vivia num regime que condenava qualquer tipo de manifestação nacionalista nas colónias.

O livro Manduco é a melhor homenagem que se poderá fazer ao combativo Pedro Cardoso: tirar a sua obra do passado e fazê-la presente. Eugénio Tavares foi o primeiro autor pré-claridoso a merecer uma reedição. Agora, é a vez de Pedro Cardoso, na obra Manduco, que será lançada no quadro das comemorações do 30º Aniversário da Independência Nacional. Mas não será o único clássico a ser homenageado. O IBNL tem, desde 2004, um livro pronto de João Lopes Filho sobre o pai. A obra intitula-se In Memoriam de João Lopes.

Pedro Monteiro Cardoso nasceu na ilha do Fogo, a 13 de Setembro de 1890, e morreu aos 52 anos na Praia, a 31 de Outubro de 1942. Aluno do antigo Seminário Liceu de S. Nicolau, foi funcionário da alfândega, professor do ensino primário e do liceu, chefe de redacção do jornal A Voz de Cabo Verde e editor do jornal Manduco.

Veja a Bibliografia de Pedro Cardoso, da Universidade Nova de Lisboa

Mário Lúcio anuncia novo álbum para 2006

A revelação foi feita à Agência Inforpress, depois do espectáculo Reencontro, que Mário Lúcio concedeu, quinta-feira, no Centro Cultural Português da Praia. Segundo a agência, o músico interpretou três dos temas que irão fazer parte do seu segundo trabalho discográfico, nomeadamente Santo Amado, Cidade Velha e Gorée.

Santo Amado nasceu de uma homenagem que me foi feita no Tarrafal. Cidade Velha foi composta há vários anos. Quanto a Gorée, é uma forma de mostrar o que senti ao visitar aquele sítio. E a música foi a única forma encontrada”, justificou o músico, natural do Tarrafal.

Com o anúncio público do seu segundo disco, depois de Mar e Luz (2004), Mário Lúcio prossegue nesta caminhada a solo, depois de uma década dedicada aos Simentera. Neste momento, o músico está empenhado em promover o primeiro fruto de sua carreira solitária. Em Junho, fará uma digressão ao Brasil. E no Verão, Europa. Em Maio, Mário Lúcio apresentará em Aveiro, Portugal, um concerto da sua autoria intitulado Universos, que contará com a participação Luís Represas e dos bailarinos Manu Preto e Tamango, da Guiana Francesa.

Com a Inforpress

sexta-feira, abril 29, 2005

Atravessar África a dançar...

A trupe cabo-verdiana em Moroni, capital de Comoros17 cidades africanas em 54 dias, entre Fevereiro e Março. Quatro cabo-verdianos: as bailarinas Rosy Timas e Bety Fernandes, o produtor Jeff Hessney, também técnico de som, e Edson Fortes, da iluminação. Raiz di Polon. Uma digressão da peça “Duas Sem Três”, recompensa pelo prémio alcançado um ano antes no Madagáscar.

No dia Mundial da Dança, 29 de Abril, Lantuna convidou Jeff Hessney a fazer a outra viagem: a da memória, das impressões, do balanço negativo – no sentido fotográfico, claro…

Foi uma grande aventura, sem dúvida. Atravessar África a dançar. Levar a dança cabo-verdiana até países onde nenhum outro artista crioulo pisara até então. “Na Suazilândia, foi a primeira actuação de um grupo de dança estrangeiro. Mas, à excepção de Moçambique, em quase todos os outros países onde estivemos, mal conhecem Cabo Verde ou então nem sabem que fica em África”, revela o produtor. Jeff Hessney garante que há uma responsabilidade acrescida, por representar Cabo Verde. “Quando se chega a um país onde nem sabem se Cabo Verde fica em África, acabamos por ser a única referencia desse país. Então, nós queremos passar uma boa imagem, para que não fiquem mal impressionados com Cabo Verde”.
Jeff Hesney e Edson Fortes
Lantuna: Além dos espectáculos, a digressão foi um laboratório sobre a produção cultural no continente...

Jeff: Há muita diversidade. Por exemplo, ficamos impressionados com a experiência dos moçambicanos. É um país com uma forte tradição na dança, o público e os profissionais são ótimos. Na África do Sul também, no Madagáscar, Djibuti, Maurícios e Namíbia, em termos de meios técnicos, humanos e da gestão dos espaços culturais. ....Sabi Más

quinta-feira, abril 28, 2005

A figura musical de Luís Morais

Uma crónica de D. Tavares

A introdução do clarinete na música de Cabo Verde terá ocorrido por volta dos finais da década de 20, com o período de esplendor alcançado pelo chorinho e o seu protagonista Heitor Villalobos. Esse efeito muito ficou a dever-se aos grupos musicais dos barcos que escalavam S. Vicente, sem esquecer o papel que veio a ter o maestro Sr. Reis na formação de músicos, a nível de instrumentos, sobretudo de folgo. Luís Morais, um dos seus pupilos, viria a converter-se num dos grandes músicos de Cabo Verde

Aquando do 1º Encontro de Música Nacional de Cabo Verde - 21 a 25 de Março de 1989 - Luís se identificou, no fim de apresentação da sua comunicação, como “Luís Morais, músico e embaixador da música de Cabo Verde”. Não sem razão, pois dizia sempre : “não sou tocador, sou músico”.

Descendente de uma família de músicos, oriunda da ilha da Boa Vista, que estabeleceu em S. Vicente, Luís Ramos Morais nasceu já nesta ilha, no ano de 1934. Adquiriu muito cedo paixão pela música que, aos catorze anos, já tirava, às escondidas, notas no saxofone do pai, antes de ingressar a escola do Senhor Reis, regente, durante largos anos, da banda municipal são vicentina.

Integrante da Banda Municipal, então sob os auspícios do senhor Reis, Luís, de principiante, ascendeu rapidamente às categorias de músico de 3ª, 2ª e 1ª classes, antes de deixar Cabo Verde rumo ao Senegal, onde com Morgadinho frequentou dois anos de preparatório para o ingresso na Escola de Belas Artes e Música de Dakar, onde veio a concluir o curso médio de música, com especialidade em orquestração para bandas. Ainda na capital senegalesa, completou dois anos de flauta, constituindo um background que lhe viria a servir nas suas actividades musicais. Não era assim sem orgulho que costumava recordar de, em 1974, ter sido chamado da Holanda para vir orquestrar o Hino Nacional que seria entoado no dia da independência nacional, uma proeza que ostentava por estes moldes: “N’ foi tchemód.” .....Sabi Más

Kenha ki ka ta lenbra?



Rivista Infantil Chibinho, editadu pa Ministériu di Edukason y Kultura, a partir di 1979. Fazi parti di infansia di minis ki nasi na tenpu di indipendensia. Oji, N atxa-l ta bendedu la na Livraria di Palasiu di Kultura Ildo Lobo. Un supreza rei di sabi. Lenbra di storias ki fazi parti di nha infansia. Nho Lobo, Chibinho, Tiganga... Ma Rivista ten mutu más: pasatenpu, riseita di fatiota, kontus, banda dizenhada, kuriosidadi, izirsisio fiziku... bali pena ten es tizoru na bu biblioteka. Nem ki seja só pa lenbra tenpu ki ka ta ben más.

O Landú, canto-dança da Boavista

Landú no Brasil. 1835Danse landu [Landu dance], from Voyage pittoresque dans le Brésil [A picturesque trip to Brazil], Johann Mortz Rugendas, 1835. National Library of Brazil. Iconography Division.
Em 2002, o professor e investigador cultural António Germano Lima, publicou "Boavista; Ilha da Morna e do Landú", seu segundo livro, depois de "Boavista, ilha de Capitães". Duas obras de referência sobre a história da ilha das dunas. Lantuna tem o prazer de anunciar aos seus leitores que, a partir de hoje, passa a publicar o livro por capítulos. Trata-se de um projecto conjunto com o autor, que se mostrou interessado em transformar esta obra num livro digital, publicado por partes.Para começar, o capítulo sobre landú, o canto-dança de origem afro-brasileira, que hoje só se executa na Boavista - e corre sério risco de desaparecer.

O Landú - por António Germano Lima

O canto-dança landú da Ilha da Boavista é uma representação simbólica, de origem ritualista, através da qual os dançantes, a anteceder a primeira noite de núpcias, transportam-se sugestivamente para um jogo sexual, como que a provar para toda a comunidade a virilidade do homem e a fertilidade da mulher.

(...) Neste capítulo, tentaremos coordenar algumas informações que eventualmente possam contribuir para a reconstituição dos traços afro-brasileiros deste canto-dança que, levado para a Ilha da Boavista, se acomodou a um espaço bem específico, a sala do baile matrimonial, e a um momento próprio, meia-noite, hora em que os recém-casados devem recolher-se aos aposentos nupciais.

In Boavista: Ilha da Morna e do Landú, cap. 2

terça-feira, abril 26, 2005

Verdes Raízes

Por Gláucia Nogueira*
PERPETUAR a memória musical da Ilha do Fogo, relembrando nomes consagrados mas também os trovadores e cantadeiras populares que de forma geralmente anónima legaram a Cabo Verde o que é hoje uma rica tradição, é a proposta do grupo Raiz di Djarfogo, que passou a integrar a colecção com a qual a etiqueta Ocora, da Radio France, procura salvaguardar os repertórios tradicionais ao redor do mundo, tendo editado até ao momento cerca de 280 títulos.

É obra de responsabilidade para um grupo de amadores que, além de tocatinas informais aos fins-de-semana, anima pontualmente eventos organizados pelo município de São Filipe, de onde são naturais os seus membros. Antes do Raiz de Djarfogo, tiveram direito a um CD a solo nesta colecção o chamado «pai do funaná», Codé di Dona, e N'toni Denti D'Oru, solitária voz masculina no finaçon, género dominado por mulheres.

Ainda que a fronteira do público cabo-verdiano ou africano de língua portuguesa não tenha sido ultrapassada por nenhum artista do Fogo, esta ilha não é excepção quanto à fertilidade musical que caracteriza Cabo Verde. O que Raiz di Djarfogo vai buscar é aquilo que permanece praticamente oculto, nomes que fizeram história e com a sua obra contribuíram para moldar uma especificidade dentro do panorama musical do país. O CD ressuscita nomes como Príncipe de Ximento (1896-1958 aprox.) e Nho Aniba Henriques (1890-1963), personagens carismáticas da ilha na primeira metade do século, que se tornaram célebres pelo olhar crítico e a ironia das suas criações. ....Sabi Más

segunda-feira, abril 25, 2005

Coimbra descobre obras de Vasco Martins



A estreia de duas sinfonias do compositor Vasco Martins, pela Orquestra Clássica do Centro, é um dos destaques da Semana Cultural "Coimbra à descoberta do Mindelo", que começa hoje naquela cidade portuguesa. Na quarta-feira, dia 27, a orquestra daquela cidade portuguesa irá apresentar, no Teatro Académico de Gil Vicente, um concerto exclusivamente dedicado à obra de Vasco Martins, com a estreia absoluta das sinfonias "4 notas na cidade", para clarinete e orquestra de cordas, e "Lux matutina", para orquestra clássica, bem como uma peça orquestral, "MornAmar", preparada propositadamente por Vasco Martins para celebrar esta "irmandande entre Coimbra e Mindelo".

"MornAmar" inspira-se numa morna muito antiga de autor desconhecido, que o escritor Baltasar Lopes costumava cantarolar, e numa composição de Virgílio Caseiro, maestro da OCC, com partes originais de Vasco Martins. O concerto da Orquestra Clássica do Centro, dia 27, inclui ainda a execução de outra sinfonia do mesmo compositor, "Pandion halieatus", inspirada nos cantos de uma águia que têm o seu habitat em Cabo Verde, e estreada em Coimbra em Janeiro.

A Semana Cultural "Coimbra à descoberta do Mindelo" estende-se até sábado, dia 30, e compreende espectáculos musicais, de dança e teatro, palestras, lançamentos de livros, uma exposição de pintura, uma mostra gastronómica e uma mesa-redonda sobre cooperação. O certame começa hoje, com o espectáculo de dança, "Notes of a Kaspar", pela coreógrafa e bailarina kriola Marlene Freitas, com as batucadeiras da Associação do Moinho da Juventude, de Lisboa.

Com a Agência Lusa

domingo, abril 24, 2005

Frank Mimita: o pioneiro

Uma crónica de D. Tavares

O levantamento da interdição imposta, durante largo período de tempo, à maioria dos elementos da cultura cabo-verdiana, deu lugar, tanto no país, quanto na diáspora, à detonação de manifestações culturais. E abriu caminho, como é já do domínio público, à reabilitação e à exploração de géneros até então banidos do convívio social, desencadeando assim uma investigação rumo às origens, consubstanciado naquilo que Norberto Tavares viria, anos mais tarde, a classificar de “volta pâ fonti”. Batuco, funaná, finaçon, tabanca, passaram a constituir preferência de artistas cabo-verdianos, tanto no país quanto na diáspora.

Falecido na Cidade de Roterdão, Holanda, no dia 25 de Janeiro de 1980, Frank Mimita foi o pioneiro neste regresso ao passado musical cabo-verdiano, cuja censura colonial previra exterminar. Frank contraiu paixão pela música, seduzido não só pelo dote que consigo carregava, mas também um pouco guiado pela movimentação cultural que então se fazia sentir no seu bairro.

Principiou no violão, seguindo o “mano velho” Gúy, com quem aprendeu os primeiros acordes, trilhando, posteriormente, por si só, os caminhos que o haveriam de conduzir à tribuna de grandes instrumentalistas, pela mão de um outro utensílio musical - o cavaquinho, de que se tornou exímio executante. Uma performance que o permitiu acompanhar em gravações discográficas, artistas como Tututa & Taninho, Calú de Santo Antão, Arminda Sousa, Bana, Luís Rendall, Jack Monteiro e tantos outros. Mas foi, no entanto, a voz que acabou por conferir-lhe glória.....Sabi Más

Terezinha Araújo grava na Alemanha

Terezinha Araújo parte para a Europa, no dia 8 de Maio, para uma digressão de 30 dias à Alemanha e Áustria, onde promoverá o seu disco “Nos Riqueza”, lançado em 2004. A cantora também deverá iniciar as gravações do seu segundo disco a solo. A produtora de Terezinha, a alemã Malagueta Music, pediu um segundo disco à cantora ainda em 2005.

Terezinha viajará acompanhada de seu quarteto, liderado por Kim Bettencourt. O tocador de cavaquinho disse à Inforpress que este novo álbum será um trabalho diferente do anterior. "O primeiro disco representou um tributo da Terezinha a todos aqueles que têm um significado no seu percurso. O próximo será mais voltado para Cabo Verde, com mornas e coladeiras".

A cantora, numa correspondência trocada com o Lantuna, revelou que o disco também será feito de outros géneros cabo-verdianos que gosta de interpretar. “Como o batuque , funaná e colá. Terá músicas de compositores já conhecidos, mas gostaria de realçar a participação dos jovens compositores que, na minha opinião, já se definem com estilo próprio, como é o caso de Ulisses Português e Tibau Tavares”.

No domínio da composição, Terezinha destaca ainda a participação da sua tia Fátima Araújo Estrela. “Ela fez uma morna muito bonita que se chama "Praia Maria". E já tinha participado no CD ‘Nos Riqueza’ com morna "Carta de contratado" que fez juntamente com o meu pai”, lembra a cantora . A cantora promete um disco mais leve e descontraído, com canções que reflectem a vivência de Teresa com as culturas de Cabo Verde, Guiné e Angola.

Com Inforpress e A Semana

sábado, abril 23, 2005

250474, segundo o Kafuka


O Kafuka Cineclube da Praia vai marcar o 31º Aniversário da Revolução dos Cravos com uma exposição de fotografias de época, no Palácio da Cultura Ildo Lobo. Uma mostra de 51 imagens sobre a marcha dos militares de Abril para derrubar o regime facista em Portugal. São documentos de época, que traduzem olhares de diferentes fotógrafos, na verdade testemunhas do que foi o 25 de Abril, as acções dos militares e a participação dos populares. "Vamos também expor um quadro cronológico destes acontecimentos, desde a marcha daquele dia, até a grande manifestação de 1 de Maio de 1974, com mais de 600 mil pessoas. Na verdade, foi uma demonstração de unidade nacional, a comemoração da vitória sobre um inimigo comum: o fascismo", explica Jão Paradela, presidente do Kafuka.

As fotografias foram recolhidas em revistas, livros e na internet. E os direitos autorais? "Estas imagens já são de domínio público. Identificamos os autores de todas as fotografias. Eles concordariam com uma exposição das suas obras, para mostrar ao público cabo-verdiano o que foi esse movimento". Mas não lhe parece estranho que um cineclube marque esta data com fotografias e não com filmes? Como justificação, João Paradela deixa entender que o obstáculo é o espaço para projecção dos documentários e telejornais de época sobre o tema.

A exposição 250474 será inaugurada na segunda-feira, dia 25, às 18h30, na Sala da Música do PCIL. No mesmo espaço, haverá uma tertúlia sobre a Revolução dos Cravos.

sexta-feira, abril 22, 2005

Festa para celebrar Dia do Livro

23 de Abril é dia Mundial do Livro. A efeméride será assinalada com actividades na Praia, Assomada, Calheta S. Miguel, Mindelo e Sal, promovidas pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Segundo o Presidente do IBNL, em entrevista ao A Semana, a promoção do livro é a tónica das comemorações. Mini-feiras do livro, hoje na capital e amanhã na Assomada, com preços bodona, marcaram o arranque da festa literária. No Dia Mundial do Livro, às 16 horas, o IBNL promove uma tertúlia entre crianças da escola SOS da Praia e autoras de livros infanto-juvenis e escritores, nomeadamente Marilene Pereira, Dina Salústio e Fátima Bettencourt. E as comemorações prosseguem até ao dia 27, com inauguração de bibliotecas, lançamentos literários, doações de livros, celebração de parcerias para a promoção do livro e da leitura, muita música e poesia.

Com o A Semana

O meu disco está pronto: na minha cabeça...

Fotu di Samori Pires
Kalu Sousa, di sé nomi artistiku Princezito, dja teni prontu sé primeru disku. Dja é grava? "Nau, minina. Disku ku 12 músika, tudu prontu, sta na nha kabesa", risposta di Princezito é sima el mé. Es musiku natural di Tarrafal sta ta trasa sé kaminhu a partir di fonti di tradison oral y musikal di Santiagu, sen dexa di ladu otus generu musikal di Kabu Verdi y tanbé ritmos di Kuba, pais undi ki é studa.

"Mi N obi txeu musika desdi pikinoti, musika di nos tera, dipós, na Kuba, N obi sés musika tanbé. Tudu kel vivensia li ta sai naturalmenti, oras ki N ta fazi nha musika". Herderu di Násia Gomi, Gida Mendi, Bibinha Kabral y Ntoni Denti Doro, Princezito é batukador di sékulu 21.

Lantuna ta fika ta spera és disku. Nu ta lenbra ma Princezito partisipa na disku "Ayan", djunto ku Djingo, Txeka y Vadu. El é autor di musika Lua, un di kes kantiga mas sabi ki dja fazedu nes tera - ki el é ta txoma di batuku-mornu.

quinta-feira, abril 21, 2005

Entre o sonho e a lucidez

"À porta dos meus sonhos" é uma exposição de fotografias de Omar Camilo, a ser inaugurada no dia 25, segunda-feira, no Centro Cultural Francês da Praia. O fotógrafo propõe uma trintena de fotografias sobre espaços e gentes de Cabo Verde. São diferentes linguagens e suportes. Se por um lado, há imagens que passam da película para o papel sem qualquer retoque, outras há que são moldadas, num exercício plástico com suporte tecnológico. O fotógrafo derruba contornos reais e cria nuances e pinceladas subtis. É o caso de uma fotografia do violinista Raul de Pina, recentemente falecido. O retrato foi desconstruído, na forma e na tonalidade das cores. Outra proposta desta mostra é a legendagem de fotografias com poemas de Omar Camilo. Raul de Pina foi homenageado com versos do livro Peças do Ar, de 1999. "Não é a queda dos dias, é a soma das ausências".

Entre a infografia e a fotografia clássica, Camilo também trabalha com diferentes suportes. “São vários tipos de impressão: sobre o papel clássico para a fotografia, sobre papel plastificado, papel rugoso e ainda sobre tela de alta definição”, explica o fotógrafo.

- À porta dos meus sonhos… para entrar ou permanecer no limiar?
- Depende de quem olha. Eu sugiro, mas quem decide é o espectador.

Longe de ser evasivo, Omar Camilo faz um exercício plástico que, se lançarmos mão de uma metáfora, há-de ser aquele momento entre o sonho e a lucidez. Há viagens entre o real e o imaginário: o embarque é uma opção do outro, daquele que vê. “Uma obra só está acabada quando é contemplada pelo espectador. Ele traz o seu olhar, a imaginação e as suas referências”.

Esta será a segunda exposição do fotógrafo, poeta e realizador cubano em Cabo Verde, desde que chegou, em 2002, para trabalhar na Televisão de Cabo Verde, no âmbito de um intercâmbio cultural entre os dois países. Em 2003, apresentou uma exposição de fotografias bitemática, na Praia. “Os Barcos regressam em silêncio”, uma composição poética sobre os despojos da Praia da Gamboa. Ao lado, um conjuntos de fotografias sobre paisagens e gentes das ilhas, intitulada de “Luz de Cabo Verde”.

A mostra “À porta dos meus sonhos”, patente até 29 de Abril, será acompanhada de um retrospectiva dos documentários de Omar Camilo, sempre às 20h.

Lusa encerra editoria de cultura

A editoria de Cultura da Lusa, a única agência noticiosa portuguesa, vai ser extinta esta semana. A (má) notícia é do Jornal Expresso, que entrevistou directora de Informação da Lusa. Deolinda Almeida justificou a decisão com a a "rentabilização de meios", acrescentado ainda que a editoria, criada em 2002, "não correspondeu às expectativas". Na bon kriolu: é ka dá lukru? Mas a Lusa teve um lucro de mais de dois milhões de euros em 2004!

Segundo o Expresso, os jornalistas da Editoria de Cultura da Lusa serão integrados noutras Editorias devido à falta de pessoal da empresa, que rescindiu contrato com 66 funcionários em 2003, segundo notícia veiculada pelo diário Público no princípio deste mês. Isto apesar dos mais de dois milhões de euros de lucro em 2004...

Esta editoria é mais do que necessária, fornece notícias diárias para órgãos de informação de vários países lusófonos, além dos portugueses. É uma das fontes privilegiadas do Lantuna, onde vamos buscar informações sobre a produção cultural dos berdianos em Portugal. Neste momento, corre na internet um abaixo assinado contra o encerramento da Editoria de Cultura da Lusa, com o seguinte apelo. " Cabe a todos os que prezam a Cultura e consideram a sua divulgação necessária protestar, assinando esta petição". Assine aqui!

quarta-feira, abril 20, 2005

Iluminação aproxima povo do património

A iluminação de monumentos e centros históricos, além do embelezamento urbano, tem o grande benefício de envolver as classes mais desfavorecidas com o seu património, gerando um sentimento de pertença. Esta tese foi hoje defendida pelo especialista Peter Gasper, durante o seminário “Luz e Cor”, organizado pela Câmara Municipal de Coimbra, Portugal. "Um dos grandes benefícios da iluminação é envolver o povo. Ao destacar um monumento à noite há uma integração, quebra-se a distância, as pessoas percebem que o monumento lhes pertence, que não é só abrigo de um departamento do Governo ou de uma escola".

Segundo Peter Casper, citado pela Lusa, "os monumentos muitas vezes são colocados para serem apreciados pelas elites, o povo não se sente dono do seu património, acha que pertence aos reis, aos governadores, aos autarcas”. A ironia, segundo o especialista em iluminação, é que o povo adere a estas intervenções muito mais do que as elites. Nascido na Alemanha, Peter Gasper vive hoje no Brasil. Tem colaborado com o conceituado arquitecto brasileiro Óscar Niemeyer. É o responsável pela iluminação da barragem de Itaipu, a maior do mundo, situada no Sul do Brasil, que associou música, luz e movimento.

Com a Lusa

Papel-moeda caboverdiano na net

Quem ainda se lembra das notas de cem escudos de 1977? A nota, em vermelho e branco, carimbada com um desenho de Amílcar Cabral e, ao lado, de uma cimboa, tinha no verso uma reprodução do vulcão do Fogo. E as notas de 20 centavos, que circularam em Cabo Verde de 1972 até 1977?

Os primeiros papéis-moeda do Cabo Verde independente foram lançados a 20 de Janeiro de 1977. As notas de cem, quinhentos e mil escudos traziam, como marca registada, o rosto de Amílcar Cabral, à semelhança do que aconteceria com as notas lançadas em 1989, cuja novidade foi a introdução das notas de duzentos e dois mil e quinhentos escudos.

As imagens das notas cabo-verdianas estão disponíveis na Galeria Virtual do Papel Moeda, uma página desenvolvida por Ron Wise. Este coleccionador disponibiliza no seu site imagens de mais de dez mil notas, de todos os países emissores do mundo. De Cabo Verde, há duas dúzias de notas, emitidas entre 1914 e 2000. Ou seja, um século da história do papel-moeda em Cabo Verde.

terça-feira, abril 19, 2005

Cabo Verde: África ou Europa?

Por Manuel Brito Semedo*






A região, como foco de identificação, é um conceito em que a cultura passa a ser a chave da significação entre a materialidade do espaço e as características da existência e da consciência social. Valoriza-se, nesse caso, o quadro físico e os aspectos culturais que resultam na personalidade do lugar, conferindo-lhe, pois, uma “identidade”. E é essa identidade que a vai distinguir dos demais.

Na perspectiva política, entende-se por regionalismo a tendência dos teóricos que são favoráveis às autonomias regionais. Porém, segundo alguns estudiosos, nem sempre foi assim, já que inicialmente aquela palavra indicava, segundo Bobbio et al. (1986) uma atitude de “excessivo interesse e amor pela própria região”.É na óptica destas duas acepções – a cultural e a política – que o conceito de regionalismo é aqui abordado, com base em duas posições, aparentemente antagónicas, já defendidas como tese pela elite letrada cabo-verdiana: região europeia versus região africana.

A sociedade cabo-verdiana tem uma história, no decurso da qual emergiu uma identidade específica, que pode ser observada em momentos determinados de crise, cujos picos foram: a ideia propalada da venda das colónias, nos finais de oitocentos; a decadência do Porto Grande e o estabelecimento do Estado Novo, nos inícios de 1930; e a fundação do PAIGC, dentro da conjuntura política interna crítica do regime de Salazar e da onda nacionalista do processo de independência das colónias inglesas e francesas, nos finais de 1950.....Sabi Más

Um 25 de Abril feito de Reencontros

fotu: www.mariolucio.com
Bu tem un inkontru markadu ku Mário Lúcio, dia 28 di Abril, seis y meia di tardi, na Centru Kultural Purtugues di Praia, lá na Txada Santu Antoni. Músiku di Tarafal di Santiagu sta bai da un prizenti pa kumemora 31 anu di 25 di Abril. Un konsertu di músika ki txoma Reencontro. Pamodi na 2004, Mário prizenta na CCP sé primeru konsertu a solo dipós di é sai di Simentera - Para Abril e Fechal, pa kumemora 30 ano di Revoluson di Kravus. Y gosi é kré odja-bu otu bês. Pamodi? “Os reencontros servem para dizermos um ao outro como é que a vida nos tem ido desde a última vez que nos vimos”, Mário fla. 365 dias depois, eis que o músico propõe a celebração de todas as noites e manhãs que o tempo roubou. Na verdade, Reencontro é uma celebração da vida. “Ter chegado vivo ao fim da tarde é uma grande proeza. Por isso, não é nenhum exagero tomarmos a noite para celebrar”.

Konsertu di Mário é un pontu na agenda di Centru Kultural Purtugues di Praia pa marka más un 25 di Abril. És ta prumovi un simana kultural, ki ta kumesa dia 25, ku un konsertu di grupu purtugues Os Alentejanos, seis y meia di tardi. “Oriundos de Serpa, interpretam música do Cancioneiro Tradicional Alentejano, a partir da recolha etnográfica do chamado 'cante de taberna', ao qual acrescentaram um trabalho de arranjo vocal e instrumental”, explica a organização do certame.

No mesmo dia, será inaugurada a exposição documental 25 de Abril: memória e projecto de um tempo recente, organizada pelo Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra. São 25 painéis com cronologia ilustrada, diversos momentos e acontecimentos que marcaram a história recente de Portugal e a instauração da democracia. A exposição ficará patente no CCP até 29 de Abril.

segunda-feira, abril 18, 2005

Monumentos e Sítios, hoje


“Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares” (Carta Internacional sobre Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios, Veneza, 1964).


O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado à arquitectura e património em terra, foi criado a 18 de Abril de 1982 pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios e aprovado pela UNESCO. Este dia oferece uma oportunidade para sensibilizar o público da diversidade do património cultural e dos esforços que requerem a sua protecção e conservação. Permite igualmente expor a sua vulnerabilidade e necessidade de lhe conceder uma atenção contínua.Desta forma, todos os anos é solicitado aos Estados membros da UNESCO que, neste dia, façam a promoção de actividades e de visitas gratuitas a sítios históricos, monumentos e museus.

Cabo Verde aderiu, a 28 de Abril de 1988, à Convenção sobre a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, aprovada pela UNESCO em 1972. O Estado cabo-verdiano aspira ter Cidade Velha na lista de Património Mundial da Unesco, bem como o centro histórico do Platô. No ano passado, Cabo Verde submeteu a candidatura da Tabanca a Património Imaterial da Humanidade. Segundo Manuel Veiga, Ministro da Cultura, o dossiê foi bem aceite. Neste momento, a lista de Património Mundial da Unesco inclui 788 monumentos e sítios, em 134 países.

Já agora: confira, esta noite, o programa "Monumentos e Sítios", da TCV, às 9h30, sensivelmente. Margarida Fontes propõe uma viagem imperdível pela ilha do Sal.

O preço da cultura

Este texto foi um autêntico achado. O blog brasileiro Falar É Preciso analisa o apelo que muitas vezes se faz sobre a necessidade de “o povo” ter acesso à arte: “Os actores querem mais gente nos teatros, os cineastas no cinema e os escritores mais livros vendidos”.

Divagar é preciso: como é que um koitadu, que ganha 12 contos por mês, pode pensar em cultura? Queixam-se que o público crioulo não se interessa pelas actividades culturais, que não sejam festivais e mantxuladas. Mas como gostar de leitura, se o livro é caro? Como comprar um bom CD, quando se sobrevive com muito pouco? Mas a questão do acesso à arte não é só condicionada pela falta de renda, mas também pela ausência de uma educação direccionada para a cultura, até porque aqui em Cabo Verde, os eventos culturais, em regra são gratuitos. Mas convenhamos que o livro é caro, o disco, o filme de qualidade...

Para atiçar o interesse do público pela a a arte, a sugestão do autor do referido blog é que se faça um trabalho junto do público de amanhã. “Seria muito interessante se, desde cedo, todas as escolas participassem em eventos e concursos que valorizassem a arte e a cultura, com concursos de redacção, de poesias, de pinturas, desenhos, colagens, esculturas, mostras de teatro e todas as formas possíveis de criar na criança o gosto, a necessidade de sempre ter contacto com aquele tipo de actividade”.

Porque o público, assim como o artista, o produtor, o divulgador, precisa ser educado. É o trabalho que a Associação Mindelact fez, na última década, no Mindelo – cativar e moldar um público para o teatro. A partir daí, ele passará a frequentar as salas de espectáculos e a exigir qualidade. Mas a equação não é tão simplista assim, quando entra em jogo a questão da qualidade...

Djirga inspira-se na morna

Uma crónica de D. Tavares

O Bairro da Achada de Santo António ergue-se num espaço ao sul do Plateau - este outrora representativo de toda a Cidade -, separados por um vale. O mar que lhe fica defronte, sempre chamou os seus habitantes à coabitação. E estes por companheiro têm-no, também, em lides que envolvem várias actividades, com realce, sobretudo, para a pesca e a cabotagem. Aliás, tornou-se em tempos corriqueiro dizer-se, por entre os rapazes de Achada, “dja bu fica lâ mô Ives”. Este é o nome de uma pequena embarcação encalhada alí na praia de Chã-de-areia, depois de, na década de sessenta, ter naufragado enquanto fazia uma viagem no percurso Dakar-Praia.

Tazinho, o seu irmão Mendonça, Audino de Mana Ficha e tantos outros tocadores de renome tinha a Achada de Santo António. E sempre que o barco de que eram capitães fundeasse na “Baía”, transformava-se num espaço de lazer e tocatina. E não é à toa que se levantou como meio de movimentação cultural, onde nem o teatro lhe fugiu. Das três tabancas existentes na Cidade da Praia, uma era da Achada, que Frank Mimita classifica como “(…) câ tâ flâ mô é midjor pamô sinon és tâ multan (…)”. Por esta razão, Tcháda guarda, um pouco escondido, mas não desconhecido devido ao seu percurso, um nome sonante da cultura cabo-verdiana: - Djirga.

De seu nome de baptismo Gregório Xavier Pinto, Djirga nasceu em Chã-de-Areia, no dia 13 de Fevereiro de 1936, filho de Luís Xavier Pinto e de Paulina Pinto Osório. Devido à morte do pai foi, ainda em tenra idade, viver ao Plateau, de onde regressou aos 15 anos, para fixar residência definitiva em Achada de Santo António. Figura de referência na música cabo-verdiana, embora um tanto ou quanto velada, mas cujas raízes advêm da sua própria forma de ser e de estar na sociedade - que até levou os que o bem conhecem a estranhar como conseguiu Chico Fragoso convencê-lo a integrar o grupo cénico “Korda Kaoberdi”.....Sabi Más

domingo, abril 17, 2005

Na pegada di oril

'Jogo de uril', M. Figueira
O oril pertence a uma família de jogos de tabuleiro designados por Mancala. São mais de 200 jogos. A origem do Mancala é muito antiga e incerta, embora se admite que tenha sido inventado pelos egípcios. Mais tarde, foi introduzido na Ásia, nas Filipinas e na África Negra. No século XVI, através dos escravos negros chegou à América e às Antilhas.

O oril é um dos jogos mais populares de Cabo Verde. Foi trazido para o arquipélago por povos da Costa da Guiné, que vieram povoar o arquipélago no século XV. Baltazar Lopes, no léxico do seu livro “O Dialecto Crioulo de Cabo Verde” (1957), refere que o oril também é conhecido por aiu no Brasil. E cita um trabalho de Manuel Quirino, datado de 1935, que descreve assim o tabuleiro: “pedaço de tábua com doze partes côncavas, onde colocavam e retiravam aius, pequenos frutos cor de chumbo, originários de África, e de forte consistência”. Outro detalhe: na Nigéria, este jogo é denominado de ayo.

Há muitas referências ao jogo do oril na Net, as suas origens e regras. Lantuna encontrou, por exemplo, um projecto de uma escola portuguesa, “O Ouri e o desenvolvimento do pensamento matemático”, que está a usar as regras deste jogo despertar o interesse dos alunos na Matemática. Segundo o documento, o oril apresenta profundas raízes filosóficas. "Estes jogos são, aparentemente, muito simples, mas não basta saber as suas regras para se saber jogar. Requerem cálculo, reflexão e muita prática. Por esta razão, são considerados como jogos eruditos, de habilidade ou de destreza”.

'Visões d'Infinito', uma expo digital







Carequice III (1999)

A exposição "Visões d'infinito", de Manuel Figueira, patente na Perve Galeria, em Lisboa, é uma retrospectiva de 42 anos da carreira do artista plástico mindelense. Uma boa notícia: quem quiser visitar a mostra, pode fazê-lo também pela Internet. São 162 trabalhos em desenho e pintura, que mostram a trajectória de Figueira, desde dos tempos em que estudava Belas Artes em Lisboa até aos dias de hoje.

Lantuna destaca o quadro "Carequice III", de uma série sobre carecas que Manuel Figueira fez em 1999. Ele disse-me, certa vez, que costuma passar muito tempo à varanda do seu atelier, estrategicamente localizado num sobrado da família, na Rua da Praia. É um excelente sítio para observar pessoas – e carecas! Daí a inspiração para fazer a colecção sobre esse tema. Vale a pena visitar esta exposição. Basta um click.

sexta-feira, abril 15, 2005

Feijó em Cabo Verde

João da Silva Feijó, militar de carreira e naturalista brasileiro, foi o primeiro fazer uma descrição do Pico do Fogo e Chã das Caldeiras, em 1783. O relato foi publicado no seu “Itinerário F(i)losófico”, constituído por sete cartas dirigidas ao ministro da Marinha e Ultramar, Martinho de Mello e Castro, em que descreve a sua exploração em Cabo Verde. As cartas incidem também sobre geografia física, topografia, portos, costumes e flora das ilhas do Fogo e Brava.

Feijó tinha uma missão específica: foi mandatado pelo Ministro para pesquisar sobre o salitre nativo e o enxofre. “O enxofre, por constituir os alicerces da indústria química; o salitre, para baixar assim os custos da pólvora. Não os encontrará em Cabo Verde, entre as lavas expelidas pelo vulcão, pelo menos em quantidade que justificasse extrai-los”.

A revista digital TriploV publicou um estudo de Maria Estela Guedes e Luís M. Arruda, intitulado de “Feijó: Naturalista brasileiro em Cabo Verde no século XVIII”. Os articulistas apresentam o contexto cultural e económico em que se insere essa viagem filosófica e transcrevem trechos das cartas. Pena é que não citem segmentos relativos à caracterização dos habitantes, com excepção da seguinte descrição dos moradores da ilha Brava.

"São quase todos os naturais desta ilha, fulos, dotados de um génio dócil e sincero, algum tanto maliciosos, muito obedientes aos brancos, principalmente inclinados à preguiça. (…) São de mais a mais ignorantíssimos, libidinosíssimos, e lascivos em extremo, principalmente as mulheres. (...) Todo o tempo empregam em bailes a que chamam zambunas, e outros divertimentos repreensíveis acompanhados de acções e movimentos licenciosíssimos, que desagradam à honestidade".

Feijó viveu em Cabo Verde desde 1783 até talvez 1797. São 14 anos de intensa investigação, mas também de algum perigo. Após a morte do Bispo, Feijó procura a justiça para denunciar as ameaças de morte de que é vítima, como se pode depreender pela leitura de sua carta a Júlio Mattiazzi, de S. Filipe da Ilha do Fogo, datada de 16 de Fevereiro de 1784.

quinta-feira, abril 14, 2005

Um criador no anonimato

Uma crónica de D. Tavares

De Bubista ser conhecida por “terra de mornas” não suscita assim tanta dúvida. De ser o seu berço, é que costuma dividir opiniões.
Assim, não é de se estranhar, pois, que tenha havido nesta ilha, número significativo de compositores, sem os quais, supõe-se, não seria possível que, naquele tempo, houvesse tanta composição. Luís Rendall, comentando a razão por que só começou a dotar as suas músicas de letra depois de ter ido à Boa Vista, justificou o facto com o argumento de ter encontrado na Boavista, o hábito de “cantar na sala de baile”, costume que não era habitual em S. Vicente. Aliás, a morna “Maria Barba” constitui exemplo paradigmático desta prática.

Por outro lado, numa terra onde a serenata quase era, por assim dizer, divertimento e uma tradição, e considerando o carácter que a nortea e a função a que se destina, não revela surpresa alguma falar em criadores na ilha da Boa Vista, muitos até circunscritos ao anonimato, como de resto acontece também com grandes tocadores de violão. Por exemplo, pouca gente conseguiu ainda descobrir que Alírio Almeida é compositor.

Baptizado pelos pais Anacleto Dias Almeida Cruz e Eugénia Roza da Cruz Almeida, com o nome Alírio Bazílio de Cruz Almeida, este “cabrer” que nasceu na Vila de Sal-Rei a 2 de Janeiro de 1940, deixou extraviar a maioria das suas primeiras músicas, por não as ter conservado, nem no papel e nem gravadas. Jamais se esqueceu, porém, da sua primeira criação - a morna “Carta de Nha Amor” -, feita quando rondava os seus 17/18 anos, e dedicada a uma namorada. Como guarda também bem fresca na memória a última, igualmente uma morna sob o título “Bô voltâ”, pois não veleja muito para a coladeira, que de resto só possui uma única, sem divulgação.....Sabi Más

quarta-feira, abril 13, 2005

S. Nicolau é tema de livro digital

Adriano de Almeida Gominho, natural de S. Nicolau, deixou a sua terra há cerca de 40 anos. Mesmo a viver longe, entre Timor e Portugal, guardou com muito carinho as memórias de uma infância repleta de brincadeiras, estórias e personagens marcantes. São essas recordações que povoam os e-books (livros digitais) que Gominho publica na Internet. À procura de não-sei-quê, acabei por chegar à casa virtual desde kriolu de 63 anos. Forti kabu sabi!

O site chama-se “Figuras típicas de S. Nicolau, Cabo Verde” e inclui dois lirvos digitais e dois conjuntos de poemas. São obras curtas, mas preciosas. Cada palavra, cada verso é tecido com os fios de lembranças da infância, gozada em S. Nicolau. O romance digital “Caminho Para S. Tomé”, escrito em 1997 e revisto no presente ano, revela a mágoa que imprime no autor a partida e a chegada de contratados de S. Nicolau, de e para S. Tomé. “Assim, se o engenho e a arte me ajudarem, é meu intento guiar o leitor amigo ao interior de uma dessas roças (uma qualquer) e, possivelmente, levá-lo ao cerne das almas de uma pobre família a de Nhô Djonzinho, um bom rabequista nascido e criado nas áridas e amareladas terras do Norte-a-Baixo, da ilha de São Nicolau”.

O livro de contos “Gentes Simples da Minha Terra” é povoado por 12 figuras que marcaram a meninice de Adriano Gominho. Como o pescador Victor, que trabalhou em casa dos seus pais. “À noitinha, ou quando se procedia à debulha do milho, das favonas e dos feijões das hortas, abeirava-se de mim para contar os encantadores contos do Lobo e do Chibinho, dos Capotonas, dos Gongons e das feiticeiras da Ribeira Prata, Ribeira Funda. Belas estórias, Victor!”....Sabi Más

Nós ku Nós

'Cabo Verde", de Kiki Lima
Konsuladu di Kabu Verdi na Boston ta prumovi kuartu konferensia "Common Threads", ki ta bai di 15 ti 17 di Abril, na Pawtucket. Tema dés inkontru di kabuverdianus na diáspora é "Rais y Unidadi: nós kaminhu pa futuru". Sta ta speradu 500 partisipanti, entri kriolus di Kabu Verdi, Merka y Europa pa bá dibati prublemas ki ta afeta nos komunidadi na States - deportason, bilinguismu, integrason y saudi. Ma distaki é edukason y kultura. Ministru di Kultura Manuel Veiga ta riprezenta Guvernu na kel eventu li y é debi papia na enseramentu di Konferensia, na dia 17, dumingo.

Common Threads, kriadu na 1999, é un fórun ki kré prumovi dialogu entri kabuverdianus, na ilha y diáspora, prumovi y prizerva kultura kriolu. Y nos kultura é pratu forti dês iventu. Pa inaugura és konferensia, ten un spetaklu di Djosinha y gardenia oji di noti, na Sculler's Jazz Club, de Boston. Dia 15, sesta fera, Bela Duarte ta mostra un spozison di tapesaria na Sentru Multi Kultural di Johnson & Wales, na Providence. Y dia 17, dumingo, ten anti streia di filmi “Some Kind of Funy Porto Rican”, di Claire Andrade-Watkins.

Com CaboVerdeonline

terça-feira, abril 12, 2005

30 anu di kultura na ensiklopedia

“A Cultura em Cabo Verde – 30 Anos de percurso rumo ao futuro”. Uma obra enciclopédica, com cerca de 500 páginas, que irá registar para a posteridade o produto cultural finkadu neste chão ao longo de três décadas. Um registo sobre as belas artes, festas tradicionais, música, literatura, língua, património, história e cooperação cultural. É desta forma que o Ministério da Cultura pretende marcar o 30º Aniversário da Independência Nacional. A obra será lançada no âmbito das comeorações, que se estendem até Novembro deste ano.

Os ensaios irão abordar o percurso e as figuras que marcam a cultura crioula desde 1975. A obra é assinada por 19 articulistas, entre jornalistas, investigadores culturais, linguistas, historiadores, artistas, escritores e responsáveis de Institutos ligados à tutela da Cultura. A enciclopédia será prefaciada pelo Presidente da República e pelo Primeiro-ministro, cabendo ao Ministro da Cultura a responsabilidade da Nota de Abertura.

A enciclopédia pretende ser uma obra de referência e dar visibilidade aos protagonistas da cultura cabo-verdiana, quer sejam nacionais ou estrangeiros. Por outro lado, propõe-se a ser uma obra situada no presente, que legitime o futuro através de um percurso, iniciado muito antes de 1975. Lantuna, espaço virtual que se propõe a fazer um registo diário da produção cultural cabo-verdiana, congratula-se com esta iniciativa. Nós é ki ten ki skrebi nós stória. Nós é ki ten ki fazi és pais ku nos mó: sima un strada undi ki na kada dia nu ta poi un pedra.

Mitos questionados

'Mestiço', de B. Rebelo
“Afinal a literacia cabo-verdiana é um mito? Os portugueses estigmatizaram os cabo-verdianos como os mais bonitos e inteligentes entre os africanos?”. São questões levantadas pelo A Semana Online, numa notícia que nos dá conta de um trabalho colectivo de investigação sobre a diáspora cabo-verdiana, apresentado numa conferência internacional do Centro de Estudos de Antropologia Social, em Lisboa. Trata-se de um conjunto de trabalhos de investigadores de universidades de 11 países, que derrubam alguns mitos sobre a cabo-verdianidade.

Segundo o jornal digital, “O mito da literacia”, da autoria de Luís Batalha, é uma das investigações mais polémicas, porque coloca em xeque uma verdade até então inquestionável: “a ideia de que no Cabo Verde colonial, particularmente nas Ilhas de S.Vicente, S. Nicolau, toda a gente era letrada”. O investigador contrapõe que “em algumas das ilhas a iliteracia era superior a 80 a 90 por cento”. O jornal destaca ainda trabalhos sobre a presença e a integração de cabo-verdianos na Argentina e na Galiza e ainda um estudo sobre a música cabo-verdiana nas discotecas da Nova Inglaterra, Roterdão, Paris e Lisboa. Vale a pena ler a notícia na íntegra.

segunda-feira, abril 11, 2005

França promove festival cabo-verdiano

fotu di www.chanson.ca
Abril é realmente o mês dos festivais cabo-verdianos na Europa. Enquanto que Coimbra se prepara para acolher uma Semana da Cultura Mindelense, na última semana de Abril, eis que Trouville Sur Mer anuncia um festival cabo-verdiano que pretende levar o calor das ilhas àquela cidade portuária da França.

Intitulado de “ Trouville Sur Mer convida… Cabo Verde”, o festival começa a 29 de Abril, com a projecção do filme “O Testamento do sr. Napumoceno”, de Franscisco manso. Aguardam-se duas conferências sobre o arquipélago: um sobre a história e a economia de Cabo Verde, proferida por David Leite, da Embaixada cabo-verdiana em Paris; e outro, intitulado de “Língua e Cultura em Cabo Verde”, cujo articulista será Jean Christophe Tailpied, Director da Aliança Francesa do Mindelo. No encerramento, a 7 de Maio, a música cabo-verdiana far-se-á ouvir nas vozes de quatro artistas crioulos radicados em França. A “Noite da Música de Cabo Verde”, com Mayra Andrade, Jorge Humberto, Mariana Ramos e Téofilo Chantre, será tecida de morna, coladeira, funaná, finaçon e batuque.

Os quatro artistas crioulos deste festival têm motivos para sorrir em 2005. Mayra Andrade prepara o seu primeiro álbum, bastante aguardado, enquanto que Teófilo Chantre cumpre uma agenda recheada de concertos em 2005, depois de ter atingido o topo da World Music na Europa, em 2004. Jorge Humberto está envolvido na divulgação do seu disco “Identidade”, lançado há alguns meses, assim como Mariana Ramos, que promove concertos para divulgar o seu álbum “Bibia”, lançado em Julho de 2004.

Com CV Music World

domingo, abril 10, 2005

Imagin África, um olhar para o futuro

No ano em que os PALOP completam 30 anos de independência, a produtora LX Filmes lança um projecto ambicioso no domínio do audiovisual. Trata-se de um conjunto de documentários sobre a dimensão contemporânea das Artes, da História e das práticas culturais dos países africanos de expressão portuguesa. É quase que remar contra a corrente do que tem sido a prática documentarista sobre África, que tem privilegiado o folclore e as práticas tradicionais. O Imagin África propõe um olhar para o futuro. “Trata-se de uma colecção de 10 documentários sobre aspectos e expressões da história e da identidade cultural desses países. Desse modo, dar-se-ão a conhecer as linguagens, as técnicas, e os médias que actualmente os artistas desses países privilegiam nas suas expressões artísticas”, explica a LX Filmes, produtora portuguesa comandada por Luís Correia.

Sobre Cabo Verde, há três documentários, de 52 minutos cada. “Batuque, a Alma do Povo” de Júlio Silvão Tavares, “Bitú” de Leão Lopes e “CONTRA Dança”, do coreógrafo António Tavares. O Imagin África surge na sequência do trabalho realizado pelo África Doc em 2004. Os 10 documentários seleccionados, e que este ano serão concluídos, foram preparados ao longo das três sessões de formação do África Doc, no ano passado. Moçambique também será representado com três documentários, sendo um deles sobre o escritor Mia Couto, visto como o “Desenhador das Palavras”. Angola é o terceiro país do Imagin África, com dois documentários. Um sobre “Estórias da música popular” e outro intitulado “O álbum do meu país: uma viagem a Angola”.

É assim que se pode construir uma rede transnacional no domínio do audiovisual, através deste projecto de co-produção entre Portugal e os países africanos de expressão portuguesa, envolvendo cineastas, produtoras independentes, televisões e instituições cinematográficas nacionais. Imagin Africa é um projecto da produtora LX Filmes, apoiado pelo ICAM, o Ministério da Cultura Português e a RTP. Em Cabo Verde, o Atelier Mar é um parceiro confirmado, aguardando-se ainda o sim da TACV e da TCV.

sábado, abril 09, 2005

'Quer queiram ou não, estou aqui!'

Os lobbies na música cabo-verdiana estão completamente montados e que não pertence a determinada corrente não aparece, não é chamado, não consta, é quase que de propósito apagado com uma possível borracha”.

Celina Pereira disse o que todos sabem e que Paulino Vieira comentara em 2002. Que há determinados lobbies na música cabo-verdiana, que funcionam como uma peneira ou funil: evidencia uns, ignora outros. Beber das palavras de Celina Pereira, numa entrevista publicada pelo Semana On-line, suscita em mim uma reacção de indignação, pelo respeito a uma das vozes da cultura cabo-verdiana mais respeitadas no mundo. Se por um lado, os lobbies são uma constante em qualquer mercado, por outro lado, não se pode ignorar as palavras de uma Celina Pereira. Além de cantora, ela é contadeira de estórias, educadora, activista sócio-cultural, educadora enfim. E tem representado Cabo Verde com talento e personalidade, num domínio de criação que não tem muitos expoentes, que é a recolha e divulgação das tradições orais.

A artista, que se assume cabo-verdiana e universal, acredita que o seu trabalho não interessa aos lobbies da música cabo-verdiana. “ As cantigas de casamento, as mornas galopadas, as mazurcas, o que quer que eu cante de diferente não pertence ao mundo comercial, ao mainstream no qual também estão os lobbies que, na música de Cabo Verde, têm tentando apagar o nome de alguns artistas”. Além da mágoa de não ser convidada para actuar na sua terra, desde 1987, Celina Pereira está determinada em fazer-se ouvir em Cabo Verde. “Cabo Verde é tão rico em termos de formas musicais, eu sou cabo-verdiana e eu vou continuar a levar essa música através do meu repertório. Quer os lobbies queiram ou não, estou aqui”.

arti risikladu arti risikladu arti risikladu

Na un pais undi ki tudu dia nu ten ki inventa novus manera di subrivivi, dispirdisiu ka podi kontisi. Si nu podi risikla, pamodi ki nu al perdi xansi di pruveta rikursu? Na transformason é ki sta ganhu. Lantuna diskubri, na Bairu Kraveru Lopis, na Praia, un artezon ki ta transforma pó di fós na verdaderus obra di arti. Shéu, di 42 anu, ta distaka na meiu di sés kulega di arti risikladu pa karinhu y paxenxa ki é ta dá pa akabamentu di sé obra.

Pa kumesa, é ta kema pós di fós y dipós, un pur un, é ta lixa-s. Forma di obijetu é fetu ku papelon, “ma ten ki ser di kés kaxa di leti kondensau, pamodi é riju y é ka ten poru pa entrada di ar”. Fazi siguinti é kola kada palitu na superfisi di papelon. Pa tirmina, é só lixa y verniza. Pronto, dja sta.

Nu ten bolsa, ku mutivu di tudu ilha, kandieru ku brazon di timis di futibol, meza, kaxa joia y tudu ki imaginason y teknika ta pirmiti fazi. Shéu ka ta consigui fazi un esposison pamodi sés pesa ta sai rei di faxi. Ma kenha ki sta interesadu na konxé-l midjor...9914386.
Desde 27/11/2004