sábado, outubro 29, 2005

Teixeira de Sousa de volta às publicações

Depois de 11 anos sem publicar, eis que o escritor e médico foguense Teixeira de Sousa surge com nova obra - e tinha que ser uma obra emblemática.

Ó Mar de Túrbidas Vagas é um regresso aos tempos em que a emigração para os Estados Unidos era feita à vela, segundo contou Teixeira de Sousa ao A Semana. O pai era capitão de veleiro e sua ausência marcou profundamente a infância e adolescência de Teixeira de Sousa. “Quando a viagem ultrapassava 30 dias, sem notícias, a minha mãe no Fogo começava aos ais’”.

Teixeira de Sousa nasceu numa família de marinheiros. No século 19, o trisavô paterno saíra da Ilha da Madeira, na altura em que os americanos praticavam a pesca da baleia nos mares do arquipélago de Cabo Verde, segundo contou o escritor à antropóloga Maria Turano, autora de um ensaio sobre a obra de Teixeira de Sousa.

O escritor viajou também entre as ilhas e os Estados Unidos com o pai e daí o seu conhecimento de navegação. Ele teve também uma aventura, parecida a que é descrita no seu conto Contra Mar e Vento, uma travessia de Providence para Cabo Verde, que, devido a uma avaria, demorou 44 dias: “cada viagem para a América ou da América para Cabo Verde, naqueles veleiros, era uma aventura. Sou portanto descendente dum trancador de baleia, e com muito orgulho".

A ideia de escrever Ó Mar de Túrbidas Vagas data de há 50 anos. Mas ficou guardada em sua memória até que um dia, ao ler o poema de Eugénio Tavares, sobre “o mar de túrbidas vagas”. E 11 anos depois de publicar Entre duas bandeiras, surge este novo romance.

Ó Mar de Túrbidas Vagas será lançado hoje, às 18h30, na Cidade de S. Filipe, no Fogo. A apresentação estará a cargo de outro escritor, Germano Almeida. Além do lançamento da obra em si, perspectiva-se um encontro interessante, entre duas gerações de escritores, com dois dos mais aclamados romancistas cabo-verdianos.

Entre a glória e o anonimato



Não fosse esta placa, colocada na sexta-feira por Ká Djarfogo, ninguém saberia que nesta campa jaz um dos mais ilustres intelectuais cabo-verdianos. António Barbosa Carreira faleceu em Lisboa, em 1988, e os seus restos mortais foram transladados para o Cemitério Riba, em S. Filipe, em 1994, a pedido do Estado de Cabo Verde.

No ar ficou o compromisso do Estado em erigir-lhe um mausoléu… mas quem visita o Cemitério Riba, nota logo a campa anónima de cimento, a contrastar com os mausoléus de mármore.

No centenário do nascimento do historiador, 28 de Outubro, a ONG Ká Djarfogo marcou a data com o descerramento de uma placa comemorativa na casa onde nasceu António Carreira, na Rua Comendador João Baptista Vieira de Vasconcelos, Ká Nho Zeca Barbosa, em Bila Baxu, São Filipe.

Na cerimónia, soube-se que o Ministro da Cultura, através de uma missiva, compromete-se a mandar erigir o mausoléu, em parceria com a Câmara Municipal de S. Filipe. Instado a comentar o atraso de 11 anos, o edil local desvaloriza. “Nunca houve uma interrupção de esforços para fazer o mausoléu”, garante Eugénio Veiga, apesar de nada ter mudado desde 1994.

Este caso, ou melhor descaso, é ainda agravado com o facto de Carreira não ter sido contemplado no rol – extenso, diga-se de passagem, de personalidades e instituições culturais homenageadas pelo seu contributo para a afirmação da cultura nos 30 anos da independência nacional. Isto no ano do centenário do nascimento de António Carreira. Por ironia, no mesmo dia que o Governo fazia tais condecorações no Mindelo.

Bio e bibliografia de António Barbosa Carreira (1905-1988)

Fotos: Rosa de Seibert

quinta-feira, outubro 27, 2005

Arti sukundidu na mural



Keli é mural ki Talentus Sukundidu fazi na paredi lateral di Kaza di Bandera, na San Filipi, na Djarfogo, dja ten dos simana. Un mural ki rizulta di un workshop sobri pintura na paredi, dadu pa Tutu ku Kaya, dos dinamizador di movimentu Talentus Sukundidu. Un mural pa omenagia tradison di Djarfogu, sima kafé, uva, vinhu, muzika y festa di bandera.

Tutu, Kaya, Leno Barbosa, Isaac Vicente, Paulo, Maruca y Jorge prizenta na dia 14 des més un espozison di arti di Talentus di Independensia, na Kaza di Bandera. Tutu y Kaya fika na San Filipi pa tenta dinamiza un bokadu meiu artistiku des sidadi. Ma gentis di artis plastiku é poku y és sta spadjadu. Pa Zelito, di San Filipi, ta falta merkadu, apoiu institusional y poder di konpra pa da razon pa kriason artistiku.

Es espozison y pintura des mural foi un ar fresku na San Filipi, undi ki nunka ka fazeda antis un mostra koletivu di arti ku artistas di otus ilha.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Finkadu na Rais lansadu na Nuvenbru

Násia Gomi y Ntoni Denti d'Oro gravam discoNásia Gomi y Ntoni Denti d'Oro na Kapital EstúdiosDuranti gravason

Násia Gomi y Ntoni Denti D’Oro ta lansa ses disku dia 5 di Nuvenbru, na Praia. Finkadu na Rais dja sta ta obidu na Merka, sima ta da-nu konta rivista CVMusic World. Disku ten oitu musika. Kuatu kantadu pa Nha Nasia, otus tantu pa Nho Ntoni y dos musika fetu pa es dos djuntu. Un disku di batuku, un dezafiu di dos mestri.

“Keli é ses dokumentariu. Es meresi un projetu ki ta paga-es para tudu kusé ki dja es fazi pa kultura di Kabu Verdi”, palavra di Gugas Veiga, prudutor di disku, ki tem Eduino di Ferro gaita na aranju y Zunga Pinheiro na som. Dinheru di benda di disku é pa Násia ku Ntoni.

Gravason foi fetu na prinsipiu des anu, entre Janeru y Marsu, na Kapital Studio. Násia Gomi, di 80 anu y Ntoni Denti D’oro, di 78, é amigu dja dura y anbienti di gravason foi rei di sabi. Dos mestri di batuku, ta bota kunpanheru piada manenti manenti. “Ami si algen ganha-n na bunitu, N ta ganha-l na feiu”. Nha Násia é mudjer di forsa, ma Nho Ntoni ta bai ta mansa-l ku sé konbersu Sabi, na mansu-mansu. “Minina…abo bu ka odja ma nos é pa konpanheru? Ami dja-N Kre-u dja! Nu ten ki kaza!”.

Na dia 5, lansamentu di disku sta ben ser um festa. Tanbé, odja konvidadus: Ferro Gaita, Vadú, Nácia Gomi, Ntoni Denti D’Oro y Batukaderas Pó Di Terra.

Keli é sugundu disku di nos dos mestri. Násia Gomi grava Ku ses mosinhus y Ntoni denti D’Oro, Batuque&Finaçon, ku selu di Ocora Rádio France.
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Paladron: CvMusic World

terça-feira, outubro 25, 2005

Como filmar em Cabo Verde?

Guenny Pires veio a Cabo Verde para filmar dois novos documentários, mas poderia acrescentar mais um na sua lista: As dificuldades para se fazer cinema em Cabo Verde. E o jovem realizador nem está a pedir dinheiro.

“Não vim aqui para isso. Eu quero alojamento e transporte entre as ilhas. Quero que as portas estejam abertas para os meus projectos. Que não tenha que esperar uma hora para ser recebido nos gabinetes”, são palavras de Guenny contra a burocracia reinante neste país. Diz que tem sido bem recebido, mas queixa-se da morosidade dos decisores. “Eu quero respostas rápidas, sim ou não. Mas levam muito tempo a decidir e o meu tempo aqui em cabo Verde está a esgotar-se”.

Guenny Pires veio para filmar dois documentários sobre Cabo Verde: Camin di Mar e Música Alma do Povo. Diz que precisa de três semanas para recolher todas as imagens e sons de que precisa. Mas já gastou duas semanas em reuniões, tem o regresso marcado para o dia 6 de Novembro e ainda não começou a gravar.

“Eu queria ir para todas as ilhas, mas agora provavelmente só poderei filmar na Praia, Fogo e Brava. O problema é que ao invés de fazer este filme em um ano, terei de levar dois. Ou talvez até quatro, como foi com O Percurso de Cabo Verde”, afirma.....LER MAIS

segunda-feira, outubro 24, 2005

Un vés Soncent era sab

José Victoria


A fotografia, da autoria de José Victoria, um presente do amigo blogueiro Sams Pires, mostra a chegada do Governador Colonial a Cabo Verde, em 1932, que desembarcou no 1º Cais da Alfândega, ainda em madeira.

Un ves san'visent era sab
Un ves san'visent era ot koza
Kond ses amdjer tava uza
Un lensu un xalis kor da roza
Un bluza un konta d'koral...

(...)
Era na temp di kanekinha


Sérgio Frusoni

sábado, outubro 22, 2005

Fogo aclama António Carreira

www.uccla.pt

O centenário do etnólogo e historiador António Carreira será assinalado na sua ilha natal, Djarfogo, no dia 28, sexta-feira, com uma série de actividades promovidas pelo Atelier DjarFogo. Assim, ao entardecer será descerrada uma placa comemorativa, uma esfinge em madeira, na casa onde nasceu Carreira, na Rua Comendador João Baptista Vieira de Vasconcelos, Ká Nho Zeca Barbosa, em Bila Baxu, São Filipe.

Durante a cerimónia será apresentada a bibliografia do etnólogo e historiador, pelo professor Fausto Rosário. À disposição do público, estarão várias obras de António Carreira, numa parceria com o Instituto Nacional da Biblioteca e do Livro.

António Barbosa Carreira nasceu em São Filipe, a 28 de Outubro de 1905. Passou a infância em Portugal e depois 43 anos na Guine Bissau, como funcionário dos Correios. Etnólogo e autodidacta, António Carreira escreveu várias obras sobre a história de Cabo Verde. António Carreira morreu em Lisboa na década de 80 e os seus restos mortais foram transladados para a ilha do Fogo no início da década de 90. Mas segundo disse ao A Semana Agnelo Vieira de Andrade, do Atelier DjarFogo, a campa é rasa e não tem qualquer inscrição.

Obras de Carreira sobre Cabo Verde

As crises em Cabo Verde nos séculos XVI e XVII
A Guiné e as ilhas de Cabo Verde, a sua unidade histórica e populacional
A evolução demográfica de Cabo Verde
Cabo Verde e Guiné e a Companhia do Grão-Pará e Maranhão
As Companhias Pombalinas de Navegação e Tráfico de Escravos entre a Cª Africana e o Nordeste Brasileiro
A Ilha do Maio
Cabo Verde Classes Sociais. Estrutura Familiar. Migrações
Tratos e Resgates dos Portugueses nos Rios da Guiné e em Cabo Verde no Séc. XX
O Crioulo de Cabo Verde
O Tráfico Clandestino de Escravos na Guiné e em Cabo Verde no século XIX
Panaria Cabo-Verdiana Guineense
Documento para a história de Cabo Verde e dos rios da Guiné
Cabo Verde, Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-1878)
Estudos de Economia Caboverdiana
Migrações nas Ilhas de Cabo Verde
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Paladron: Inforpress e A Semana

quinta-feira, outubro 20, 2005

Olhar Mindelo com olhos de ver

Por Jorge Marmelo

Descoberta em 1462, a ilha de S. Vicente permaneceu desabitada até meados do século XIX, altura em que os ingleses, para comemorarem o desembarque na homónima praia nortenha portuguesa (que permitiu a vitória dos liberais sobre os miguelistas), criaram a cidade do Mindelo, hoje a segunda maior de Cabo Verde – e a mais cosmopolita.

Espraiando-se em torno de uma baía, o Mindelo preserva ainda bem conservados os traços da sua herança portuária e colonial: as velhas casas mantêm-se impecavelmente preservadas e pintadas de tons fortes, com portadas de ripas de madeira nas janelas; há uma réplica da Torre de Belém junto à estátua do descobridor Diogo Afonso, nas imediações do Mercado do Peixe; a praça principal, rebaptizada em homenagem a Amílcar Cabral, preserva o quiosque que serve de ponto de encontro dos mindelenses, os bustos de Camões e Sá da Bandeira e o coreto; há praças com igrejinhas brancas; o antigo Mercado Municipal, de dois pisos e com o telhado seguro por traves de madeira, foi objecto de recuperação recente; e mesmo o antigo Palácio do Governador, agora a funcionar como tribunal, resplandece em branco e rosa, enquadrado por belas buganvílias rubras.......LER MAIS

O olhar de Ildo

Eu tinha de nascer num país de morna e rodeado pelo mar. Palavras de quem viveu a cantar e na despedida, a sua voz foi celebrada com um disco eterno. Ildo Lobo partiu há exactamente um ano. Deixou um mar de saudade e um disco inédito, Incondicional.

Muitas homenagens depois, a memória de Ildo Lobo continua viva. Nunca um artista deixou tamanha saudade como o vocalista dos Tubarões. Prova disso é a romaria de familiares, amigos e admiradores que o acompanharam até a sua última morada, a 20 de Outubro de 2004. E no ar, a certeza de que Cabo Verde perdera o mais emblemático intérprete de mornas e da música de intervenção do pós independência.

Dono de um percurso musical aclamado, a carreira de Ildo Lobo foi marcada pelos 20 anos de permanência nos Tubarões, ao longo dos quais gravam sete discos, sete clássicos da música popular cabo-verdiana. Há dez anos, lançava-se na carreira a solo com Nos Morna, com clássicos da morna, uma disco sublime. Em 2001, surgiria o Intelectual, álbum com várias canções de Betu, compositor maiense.

E por fim, Incondicional. Lançado a título póstumo, no dia em que completaria 51 anos, e na terra que o viu nascer. Pedra de Lume. E assim cumpria Ildo Lobo o seu ciclo de vida. A sua arte, pelo contrário, já é património, é público. É nosso.

quarta-feira, outubro 19, 2005

A vitória de Gil

Gil Semedo, homenageado no dia Nacional da Cultura, visita Cabo Verde este mês. Na bagagem, traz o single Nha Vitoria. A música é o aperitivo de seu novo disco, com o mesmo nome, que está a ser ultimado pela produtora MB Records.

Segundo o A Semana Online, trata-se de um disco mais acústico, uma tendência evidenciada em discos anteriores. Gil Semedo afirma que é um trabalho mais maduro, menos pop e mais acústico. Este trabalho surge três anos depois de Gil Semedo lançar o último álbum de originais, “Dedicaçon”.

Paladron: A Semana Online

terça-feira, outubro 18, 2005

Vende-se Condição de Louco. Topa?

"...obra de uma frescura imensa, capaz de saltar de um estranha abordagem à morna para dedilhados em brasileiro, e ainda se atirar a reggaes escuros pelo meio". O Público

"Danae sonha largo. Não teme a distância entre a pop brasileira e a música mais tradicional de Cabo-Verde (...) A artista apresenta mesmo um certo lado desbocado, sem cair em incontinência verbal, num tema que junta versos como «mandei pedir Coca-Cola e pizza (…) vem meu amor faz aquele gesto de carinho que eu prometo que tiro logo a cuequinha». Louve-se o pragmatismo tão romantizado em milhentas canções". Disco Digital

"Danae é uma agradável surpresa da mais recente música em língua portuguesa (...) Uma escritora de canções desconcertante, e uma voz envolvente e cativante à primeira audição". Cotonete

"Danae consegue com o disco de estreia, um nível considerável de sedução e uma multiplicidade de pistas interessantes para quem começa. Vale a abordagem". Correio da Manhã

Sonetus di Camões na Kabuverdianu

Extracto de uma fotografia de ZLT tirada por Mito Ta muda tenpu, ta muda vontadi,
Ta muda ser, ta muda konfiansa;
Tudu mundu é fetu di mudansa,
Ta toma senpri nobus kolidadi.

Sen nunka pára nu ta odja nobidadi,
Diferenti na tudu di speransa;
Máguas di mal ta fika na lenbransa,
Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi.

Tenpu ta kubri txon di berdi manta,
Ki di nebi friu dja steve kubertu,
Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba

Ku dosura. Y, trandu es muda sen konta,
Otu mudansa ta kontise ku más spantu,
Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba..

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é feito de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Por José Luis Tavares
Em homenagem aos 138 anos do nascimento de Eugénio Tavares,
assinalados hoje, 18 de Outubro.

domingo, outubro 16, 2005

As revoltas da ilha de Santiago

Capitão Ambrósio, por M.Figueira
A 27 de Dezembro de 1811, há um protesto contra os novos impostos criados para suportar a milícia em Santiago. Os cabecilhas do protesto foram deportados como prisioneiros para o Brasil. Segundo o historiador Senna Barcelos, "as autoridades não confiaram nos soldados crioulos porque no dia da revolta eles declararam que não disparariam contra os revoltosos".

Em Janeiro de 1822, trabalhadores agrícolas e arrendatários recusam-se a pagar as rendas ao Coronel Domingos Ramos, presidente do Distrito de Engenho. Os manifestantes exigiam uma reforma agrária que transferisse a posse da terra a quem de facto a trabalhasse.

Um grupo de nativistas, impulsionados pela independência do Brasil, no mesmo ano, aproveita para incentivar à continuação da revolta dos rendeiros na ribeira dos Engenhos, com a qual pretendem desviar a atenção das autoridades, enquanto preparam a constituição e o envio de uma delegação ao Rio de Janeiro, a fim de discutir os termos da anexação de Cabo Verde ao Brasil. O projecto acabaria por falhar e os conspiradores deportados.

Em Março de 1835, 225 deportados de São Miguel, nos Açores, encenam um protesto na Praia contra as autoridades portuguesas. Os protestantes partem para a Brava para fugir às autoridades.

Em Dezembro do mesmo ano, os escravos de Monte Agarro, localidade a cerca de 4 quilómetros da Praia, tentam invadir a cidade para "matar todos os brancos donos de terras". Segundo Sena Barcelos, um relatório preparado pelo Juíz local afirma que "os escravos tencionavam obter a sua liberdade e para isso determinaram matar os seus Senhores e a seguir embarcar para a Guiné".......LER MAIS

Raboita na Pedra

"A mulher que chora", de P. Picasso




"Na 1910 mosinhus

Raboita di Rubon Manel

Djes leba nhos mudjei, djes prendi nha guenti

Pamo kel um dôs gran di purga..."
Raboita di Rubon Manel, O. Pantera




Finalmente, vai-se lançar a primeira pedra do monumento à Revolta de Ribeirão Manuel (1910), na ilha de Santiago. Será na tarde do dia 18, Dia da Cultura. O projecto do monumento tem a assinatura do artista plástico Domingos Luisa, autor da estátua Sto. António das Pombas, no Paul.

A revolta de 1910 é um episódio marcante da história rural de Santiago, ilha marcada pelo sistema de exploração de morgadios: os morgados eram donos da terra, das casas e das colheitas. Ao rendeiro, sobrava fome e miséria.

Em Fevereiro de 1910, o Padre António Duarte da Graça insurge-se contra a prisão de um pequeno grupo de mulheres que tinham colhido ilegalmente sementes de pulgeira selvagem. A recolha e exportação destas sementes produtoras de sabão era monopólio oficial. O protesto do padre transformou-se gradualmente numa revolta de muitos habitantes locais que, comandados por uma mulher, Ana Veiga, marcharam com macgados e pedras atacaram a prisão de Cruz Grande. O lema da revolta era "Aqui não há negro, não há branco, não há rico, não há pobre... somos todos iguais!". A milícia acabaria por esmagar a revolta.

O esboço do monumento da Raboita di Rubon Manel, em pedra e cimento, mostra uma mulher em marcha, empunhando um machado, e arrastando uma multidão, simbolizada por um quadro de esculturas em baixo relevo. A figura é a de Ana Veiga. Desta revolta, ficou a máxima"Omi faka, mudjer matxadu, mininus tudu ta djunta pedra".

No dia 18, terça-feira, o Ministro da Cultura estará em Ribeirão Manuel para lançar a primeira pedra do monumento, sob o som da txabeta de batucadeiras da localidade.

sábado, outubro 15, 2005

Governo distingue agentes culturais

Cerca de 90 personalidades e instituições serão homenageadas pelo Governo, com a Medalha de Mérito Cultural, no Dia Nacional da Cultura, 18, pelo seu contributo à cultura nos 30 anos do Cabo Verde independente.

Homenagens na cultura, ainda por cima em vida, não são frequentes, por isso a iniciativa é louvável. Mas noventa, é exagero. Parece compensação por não ser prática entre nós o reconhecimento dos merecedores. E depois, corre-se o risco de ter uma cerimónia longa e pedante.

De qualquer forma, será uma reunião interessante, com personalidades das letras, música, teatro e pintura.

Os músicos são a maioria, cerca de 35. Haverá homenagens póstumas a Ildo Lobo, Anu Nobu, Luís Morais e Orlando Pantera. No campo das letras, o Estado vai condecorar perto de 25 escritores, a Associação de Escritores Cabo-verdianos e as editoras Spleen Edições, Ilhéu Editora e Artiletra.

Um total de oito artistas plásticos, entre os quais Mito, Tchalé Figueira, Leopoldina Barreto e Leão Lopes serão igualmente condecorados por ocasião do Dia da Cultura.

Segundo a Inforpress, está prevista uma cerimónia idêntica em São Vicente, no dia 24.

Paladron: Inforpress

quinta-feira, outubro 13, 2005

Na Nuvenbru, Shakespeare ta papia kriolu








Asosiason Mindelact ta pusta ma é kontesimentu más inportanti di es fin di anu 2005, na kanpu di arti seniku na Kabu Verdi. Tres grupu di Mindelu djunta pa prizenta un mostra di pesas di Shakespeare montadu na kriolu.

Dia 19 ku 20 di Nuvenbru ten Rei Lear - Nhô Rei já bá cabeça, ki estrea na Festival Mindelact 2003, un djunta-mó di Grupu di Tiatru di Centru Cultural Purtugues di Mindelu y Atelier Teatrakacia.

Y dia 26 y 27 di Nuvembru, pesa Sonho de uma Noite de Verão, pa Konpanhia Solaris, ki estrea na Sitenbru.

Y na Praia? Pamodi ki grupus di Praia ka ta djunta pa fazi un mostra di tiatru tanbé? Ka nu spera só pa Marsu Mes di Tiatru... ó inton pa ensaia só pa bai Mindelact. Praia ten 110 mil algen. Es debi gosta di tiatru tanbé...

Fotus di João Barbosa

quarta-feira, outubro 12, 2005

Universus no Dia da Cultura

O Dia Nacional da Cultura, 18 de Outubro, celebrado pela primeira vez este ano, é a data escolhida pelo Instituto Camões/Centro Cultural Português para a estreia do concerto Universus, na Praia. O palco será o Auditório Nacional, às 21h.

Um dueto entre os músicos Mário Lúcio, prata da casa, e Luís Represas, de Portugal. Um enlace entre a guitarra e a voz, em que os dois compositores irão interpretar temas próprios, numa ponte entre dois continentes, dentro do universo atlântico.

Universus é um espectáculo criado por Mário Lúcio para o encerramento do ano lectivo na universidade de Aveiro, no dia 28 de Maio. O contacto entre os dois músicos já é de outros tempo, tendo Represas participado no disco Mar e Luz de Lúcio.

A mestiçagem é um elemento transversal na carreira dos dois músicos. Neste espectáculo, Mário Lúcio representa a tradição e a modernidade, as raízes autóctones e os elementos miscigenados do continente africano, que se cruzam através da sua música e da dança do coreógrafo Mano Preto. A representar a Europa estará Luís Represas, um dos mais emblemáticos compositores e intérpretes da nova música portuguesa.

UniVersus é a representação dos encontros culturais a que Mário Lúcio se propôs ao longo da sua carreira. “Nesses últimos anos, o meu ideal artístico tem sido o da mestiçagem, a única que existe, a mestiçagem cultural. Tenho-me proposto encontros para descobertas do que temos em comum, mas também para ajudar a mostrar o que cada um tem de particular”, afirma.

O músico tarrafalense já gravou com artistas de várias latitudes, como Manu Dibango, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Toure Kunda, Maria João e Mário Laginha, Luís Represas, Carlos Barreto, Carlos Martins, Leo Gandelman, entre outros.

Biografia de Luis Represas

Enquanto a chuva não vem...



...ó ka binha inda. Es testu di jornalista purtugues Jorge Marmelo sai na kadernu Fugas di jornal O Público. Gosi li, Txuba dja ben y Kabu Verdi é uma redundância.



No naco de estrada alcatroada que vai de S. Domingos à Assomada, serpenteando pelo interior da ilha de Santiago, a menina estende um mamão a quem passa. Tem um lenço na cabeça, acácias ao redor, a geografia escarpada da maior ilha cabo-verdiana marcando-lhe o corpo. São rijas as pontas dos seus dedos, ágeis e fortes as pernas afeitas a subir e descer arribas acartando água, envergonhado o sorriso espontâneo, bonito, que oferece ao fotógrafo.

A terra parece árida, seca, agreste, mas, explica o guia, basta que chova um pouco para que o verde tome conta das paisagens e se assemelhe àquele dos bananais do Cancelo. Basta que chova. As nuvens no céu azul da ilha do Sal, porém, jamais lacrimejam, ou quase nunca. São apenas uma promessa, uma miragem tão intocável quando o logro de água que a reverberação do sol faz nascer, ilusória, na terra plana a caminho do Monte Leste. Bastava que chovesse um pouco para que Cabo Verde fosse um pouco diferente do que é: no caminho entre o Mindelo e o Calhau, na ilha de S. Vicente, as plantações pouco medram sob o sol inclemente. Mesmo que haja quem caminhe indiferente à brasa, a terra parece queimada, estiola.

A velha baliza no campo de pó negro já perdeu a conta aos furos que o passado lhe desferiu. A arte dos golos, porém, dispensa o desvelo da rega. Os deuses da bola são mais benévolos do que aqueles que comandam os humores da chuva.

Jorge Marmelo

In Suplemento Fugas, Jornal O Público

terça-feira, outubro 11, 2005

G. Fernandes vence Prémio Cidade Velha

A obra Em Busca da Nação: Subsídios para a reinterpretação de um Cabo Verde politicamente situado é a vencedora do Grande Prémio Cidade Velha 2005, criado este ano pelo Ministério da Cultura. O autor é Gabriel Fernandes, Mestre e doutorando em Sociologia Política pela Universidade Federal de Sta. Catarina, no Brasil.

Segundo o Júri, presidido pelo jurista e escritor David Hopffer Almada, a obra de Fernandes foi escolhida por unanimidade, dentre as 17 candidatas. “Uma obra de grande valor científico, tendo em conta a abrangência dos temas abordados, o rigor e a profundidade das análises feitas, e o vigor e a segurança do raciocínio no encadeamento do processo histórico do povo cabo-verdiano na formação e formatação da sua consciência em busca de uma Nação que se veio a proclamar independente em 1975”, pode-se ler no comunicado do júri.

Além da obra de Fernandes, duas outras receberam a Menção Honrosa do Júri. A Construção social do discurso educativo em Cabo Verde (1911-1926), de Maria Adriana Gonçalves, e Cabo Verde – a construção da identidade nacional (Análise da imprensa entre 1877 e 1975), de Manuel Brito Semedo. O vencedor do Grande Prémio Cidade Velha vai receber 700 mil escudos em dinheiro e a edição da obra será assumida pelo Ministério da Cultura.

A entrega do galardão será feita no Dia Nacional de Cultura, 18 de Outubro, numa cerimónia na Praia. Na mesma cerimónia serão condecoradas pelo Governo mais de 50 personalidades ligadas às artes e letras e será lançado o catálogo Cabo Verde 30 anos de edições, do Instituto Nacional da Biblioteca e do Livro. Instituído em Dezembro de 2005, o Grande Prémio Cidade Velha distingue obras inéditas de investigação científica, no domínio da história de Cabo Verde e das ciências humanas e sociais, produzidas por autores cabo-verdianos e estrangeiros.

Quem é Gabriel Fernandes?

De volta aos palcos e aos discos

Cesária Évora acaba de concluir a gravação do seu próximo disco, com saída prevista para a segunda quinzena de Fevereiro de 2006, segundo um anúncio da Lusáfrica, a empresa editora da artista.

Recuperada de uma operação cirúrgica a que foi submetida em Paris, e concluída os trabalhos de gravação, a diva dos pés descalços regressou aos palcos na passada semana, num concerto na Polónia. A cantora encontra-se na Rússia, para uma série de concertos até o dia 19, quando rumará para a Holanda, Bélgica, Espanha, Brasil e França, onde fechará o ciclo de apresentações do ano 2005.

Depois do lançamento do próximo álbum, Cise vai realizar uma cruzada pela América do Norte, com o primeiro show em Guadalajara, México e depois pisará 21 palcos, de diferentes cidades dos Estados Unidos e Canadá.

Recorde-se que Cesária Évora, 63 anos, foi submetida a uma operação cirúrgica sem gravidade, em Paris, pelo que foram cancelados os seus espectáculos agendados para Junho e Julho últimos.
Paladron: Visaonews

Tcheka é finalista do Prémio RFI



O músico kriolu Tcheka é um dos três finalistas da edição 2005 do Prémio da Radio France Internationale (RFI)-Músicas do Mundo. O vencedor será conhecido em Novembro, durante um espectáculo em Dakar, Senegal. O prémio tem por objectivo promover artistas ou grupos musicais de África, do Oceano Índico e das Caraíbas.

O artista cabo-verdiano, seleccionado graças ao seu último trabalho discográfico, intitulado Nu Monda, está “muito contente e orgulhoso” com a sua escolha, segundo citação do Panapress.

Os outros dois finalistas do prémio são o tocador de kora Ba Cissoko, da Guiné Conakry, e a cantora gabonesa de Rythm and Blues, Naneth.

O vencedor receberá seis mil euros e uma bolsa do Ministério francês dos Negócios Estrangeiros no valor de 12 mil e 500 euros, destinada a promover a sua carreira em 2006, enquanto os estantes dois finalistas terão direito a mil euros cada.

Tcheka é o segundo músico cabo-verdiano a chegar à final do Prémio da RFI depois do multi-instrumentista e cantor Augusto Cego, que perdeu em 2003 o galardão para o rapper senegalês de origem cabo-verdiana, Didier Awadi.

Paladron: Panapress

sábado, outubro 08, 2005

Oiá, djobé, spia, mirar, olhar...

Depois do Festival do Filme Insular, e no mês em que a Ilha dos Escravos começa a ser rodado em Cabo Verde, a Fou-nana projectos, do Mindelo, propõe um olhar diferente para o audiovisual.

Oiá, do imperativo Olhe, do verbo olhar, da necessidade de ver para crer, numa terra onde cinema parece arte última. Trata-se de um ciclo de projecção de filmes e documentários ao ar livre, sublimado por debates sobre o audiovisual em Cabo Verde. E melhor: é itinerante... de S. Vicente a S. Nicolau, ilha periférica mas que neste contexto é centro, é tela também. E ainda oferecem oficinas de formação e palestras, em fotografia, som e imagem.

Previsto para começar no dia 6, Oiá ainda está de molho. A cada dia de atraso, cresce a vontade de olhar... ao pessoal do Fou-nana: nhos ka sta ben dixa-nu ku agu na boka... ó na odju?

sexta-feira, outubro 07, 2005

Luis Romano homenageado

O escritor cabo-verdiano Luís Romano vai ser homenageado no Brasil, a 23 de Novembro, por um grupo de emigrantes crioulos radicados nos States. Os promototes desta iniciativa, encabeçados por Zeca Leite, querem que o Estado Cabo-verdiano se associe a esta homenagem ao autor da obra Famintos.

Actualmente com 83 anos de idade, Luís Romano enfrenta uma doença prolongada e grave e está preso a uma cadeira de rodas. Zeca Leite alerta o Estado de Cabo Verde para a situação do escritor, em declarações ao Cabo Verde Online: “encontra-se isolado e esquecido num recanto do Brasil, numa fase em que o seu estado de saúde é muito precário, com diagnóstico de doença grave”.

Na mesma cerimónia, será lançado o livro António Januário Leite: o poeta do além vale, que Romano levou vinte anos a preparar. A obra traça o perfil poético e biográfico de Leite, além de conter uma antologia de seus poemas.

Luís Romano nasceu na Vila da Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, em 1922. Escritor e poeta, grande parte da temática de Luís Romano gira em torno da sua terra natal, Cabo Verde. Romano é um crioulista assumido, língua que acredita ser neo-latina, que procede dialectalmente de um antigo português quinhentista.


Bibliografia

Famintos, romance popular caboverdiano, 1962, Rio de Janeiro, Brasil
Clima, poemas, 1963, Recife
Cabo Verde - Renascença de uma civilização,1967 e 1970, Lisboa
Negrume/Lzimparín, contos caboverdianos, 1973, Rio de Janeiro, Brasil
Contravento, antologia poética bilingue, 1982, EUA
Cem Anos de Literatura Caboverdiana, 1985, USP-São Paulo, Brasil
Teknosal, vade mécum salineiro, 1990, Col.Mossoró, RN, Brasil
Ilha, estórias caboverdianas, 1991, S. Vicente
Kriolanda - Estigmas, 1999, S.Vicente
Kabverd Civilização e Cultura, 2000, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte: Cabo Verde Online

quarta-feira, outubro 05, 2005

Jazz y Blues na Palasiu

Kuzé ki bu sta ben fazi dia 10 li, seti ora di noti? Bu sta okupadu... Y dia 14, na mesmu ora? Nton, nu marka: dia 14, seti ora di noti nu sta ta bai odja un DVD, A Caminho de Memphis, un tributu pa BB King, la na Pátiu di Palásiu di Kultura. Cyber Café Sofia ki sta ta prumovi.

Dia 10, es ta da pontapé di saida ku un konsertu di Horace Silver Quintet (foto). Un dia dipós, Lightning in a Bottle, de Antoine Fuqua. Para ver o trailer, clique aqui. Poderá ainda ver dois documentários sobre blues. De Regresso a Casa, de Martin Scorsese e Piano Blues, de Clint Eastwood. Este dois filmes fazem parte da colectânea Blues, em português Martin Scorsese apresenta os Blues, sete DVDs, num total de 780 minutos. Sete filmes de realizadores diferentes, nomeadamente : Wim Wenders, Richard Pearce, Charles Burnett, Marc Levin, além de Scorsese e Eastwwod.

O convite para este certame, Jazz i Blues na Palácio, não vem acompanhado de sinopses dos filmes, mas aqui poderá se informar melhor...

Horace Silver Quintet: Durante a década de 50, o pianista Horace Silver se uniu aos Jazz Messengers, quarteto formado por Art Blakey (bateria), Doug Watkins (baixo), Kenny Dorham (trompete) e Hank Mobley (sax-tenor). Juntos, lançaram dois discos e as bases do hard bop.

Lightning in a Bottle: a produção mostra um megashow realizado em 7 de fevereiro de 2003 no Radio City Music Hall, em Nova York, em comemoração do centenário do blues. Participaram do espetáculo, entre outros, Natalie Cole, B.B. King, Buddy Guy, Shemekia Copeland e Mavis Staples.

De Regresso a Casa: Scorsese acompanhou o tradicionalista e cultor do blues acústico Corey Harris numa viagem até ao Mali e às raízes dos blues. (dia12)

A Caminho de Memphis: Lendas vivas, B.B. King, Bobby Rush, Rosco Gordon e Ike Turner retornam a Memphis, no Tennessee, para concerto patrocinado pela sociedade para preservação e memória do blues. (dia 13)

Piano Blues: fala sobre memórias, sobre músicos que se lembram de outros músicos, sobre as influências que tiveram ao longo das respectivas carreiras, sobre as origens do blues nos spirituals, no boogie-woogie, no ragtime, no folk.

Fonte das Sinopses: Revista Contracampo

terça-feira, outubro 04, 2005

Para encher os olhos


Numa altura em que ir ao cinema na Praia tornou-se uma aventura, muitas vezes ingrata, eis que o Centro Cultural Francês nos brinda com um evento de encher os olhos. O Festival do Filme Insular, de 1 a 9 deste mês, em S. Vicente e Santiago. Termina hoje a projecção de filmes no Mindelo e no dia 6, será a vez de Santiago. Além da projecção de nove filmes, haverá um debate no Pelourinho da Cidade Velha, na sexta-feira, dia 7. Daniel Segura, da Cooperação Espanhola, Konstantin Richter, do Fórum Unesco, e Charles Akibodé, do IIPC, questionarão “Que Património para Cidade Velha?”.

Entre os filmes seleccionados, está Nha Fala, de Flora Gomes, Tabanka ka Mori, de Giuseppe Vecchi e Leonardo Pellagata, e ainda Terra Longe (Chã das Caldeiras), de Daniel Thorbecke. Todas as projecções, quer no Mindelo, Praia, Cidade Velha e Pedra Badejo, serão animadas pela música do francês Gilles Butin, um cantor itinerante.

O Festival do Filme Insular nasceu na Ilha de Groix (Costa da Bretanha) e Cabo Verde foi o convidado de honra na edição 2005, que aconteceu em Agosto, com a participação de Mayra Andrade. Os organizadores deste festival associaram-se à Cooperação Francesa e ao Tara Expedições para trazer este certame a Cabo Verde. O Tara é um veleiro concebido para navegar sobre todos os mares do planeta. Desde 2004, está envolvido num projecto itinerante de alerta sobre o aquecimento global, em parceria com as Nações Unidas. O navio chegou`à Baia do Mindelo no dia 30.

Para ver a programação deste evento, aceda à coluna Na Varanda deste blog.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Aprender para fazer

São jornalistas, realizadores, produtores, actores, e amantes de cinema, pessoas interessadas em aprender técnicas de escrita de roteiro para ficção em cinema. É o primeiro atelier do curso de preparação de uma equipa técnica cabo-verdiana para acompanhar a rodagem do filme A Ilha dos Escravos, em Cabo Verde.

Ao longo das três semanas, irão ainda apreender técnicas de produção e realização cinematográfica, com profissionais da área. O primeiro é Luís Carlos Patraquim, poeta, jornalista e roteirista moçambicano. “É interessante ver gente tão diferenciada ter um interesse por esta área, que é fascinante. A arte estará em conseguir criar sinergias com estas pessoas tão diversas, para o desafio de apostarem na escrita de uma sinopse que dê azo depois para um roteiro para uma curta-metragem para cinema”, explica Patraquim.

O melhor desta formação fica para o fim: além de poder acompanhar a rodagem de A Ilha dos Escravos, o melhor roteiro deste curso será levado para o cinema, num curta financiado pelo Cinemate.

Três profissionais da Televisão de Cabo Verde participam nesta formação, que decorre na Casa Cor-de-Rosa. A jornalista e blogueira Margarida Fontes interessa-se particularmente pela escrita de roteiro, após a experiência de editar o magazine Monumentos e Sítios, por seis meses. “É un valensia a más pa nha formason na audiovizual, na komunikason. Y mesmu tanbé na produson y realizason é subsidius interesanti pa nós jornalistas, pa nu sta más a vontadi tó ki nu pensa na sai y produzi un programa ó dokumentáriu”.

Em Cabo Verde, o filme de Francisco Manso será rodado, a partir de 17 de Outubro, na Cidade Velha, Praia de São Francisco, no Quartel Jaime Mota, no Plateau, e ainda no Monte Vermelho. É nas grutas deste monte, moldados pela apanha de jorra, que a actriz brasileira Zezé Mota deve gravar uma das cenas do filme.

O roteiro de A Ilha dos Escravos é inspirado no romance O Escravo, de Evaristo de Almeida, escrito em 1856.

domingo, outubro 02, 2005

Uma pedra no charco


Korte kré ari, ari, ari”. Esta frase não foi escrita por William Shakespeare, mas na versão crioula da peça Sonho de uma Noite de Verão, Filóstrato, director de festas na corte de Teseu, ordena que os escravos façam uma peça para entreter a nobreza. Mas exige uma comédia. Esta cena surge como um provocação aos grupos de teatro e ao público mindelenses. Segundo o encenador da Companhia de Teatro Solaris, Herlandson Duarte, a corte representa o público e os escravos, os actores. E o recado é claro: o Solaris não está disposto a ser dominado.

No encerramento do Mindelact 2005, aquela companhia apresentou a comédia de Shakespeare, sem pretensão de arrancar risos da plateia. A um ritmo lento, viu-se um espectáculo plástico, quase que uma sequência de quadros fotográficos. De uma beleza inquestionável, é certo, pelo primor dos figurinos e da maquilhagem, mas muito lento e marcado - tanto quanto a peça Julietas, a estreia do Solaris.

Duas peças onde o encenador é protagonista, relegando o texto e a interpretação para segundo plano. Segundo Duarte, não se trata de uma adaptação e sim de uma tradução para crioulo. “Nós respeitámos o texto original na íntegra. Montamos esta peça, respeitando todas componentes da encenação de um clássico de Shakespeare". Mas o texto permaneceu frio e muita gente na plateia saiu sem entender bem a história. Mas será que isso é o mais importante para a Companhia Solaris?

Ao que parece, não. Aquela trupe teatral veio para provocar e sacudir a maneira como se faz teatro no Mindelo. O que não deixa de ser aliciante: de um lado, a comédia crioula, representada pelo grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo/Instituto Camões, e de outro, Solaris, com os seus espectáculos plásticos, ousados e nada inocentes. Pretende-se que o público vá ao teatro, não para subliminar a vida num sorriso, mas para sair incomodado, mesmo que não saiba porquê.

De resto, só uma palavra de apreço ao trabalho do jovem encenador Herlandson Duarte. Pela ousadia. Embora num estágio experimental, Kutsch é brilhante, apesar de seus 19 anos.

Fotos de João Barbosa
Desde 27/11/2004