quinta-feira, julho 07, 2005

PÁTRIA MINHA - HISTÓRIA SUBJECTIVA

Por José Luis Tavares*

1.

Imagens longínquas, mas vívidas: meninos de bibe branco, em fila indiana, cantando «heróis do mar, nobre povo». Posto escolar nº 53, colonato de chão bom, tarrafal. Era a pré-primária, eram as primeiras letras. Outubro era um pátio expectante aguardando a confirmação ou a danação. Dona Minda trazia bananas da pesagem, que depois enfiávamos num orifício aberto no tampo da carteira. O leite preparado numa lata de vinte litros, com os dizeres «produtos porcinos do montijo». Mesmo nas férias, não parava a distribuição — desarranjos intestinais, uma caganeira pegada. A escola tinha casa de banho, electricidade e água canalizada — um privilégio; mas nós continuávamos a «ir no mato». Manso pátio de rubras acácias floridas, uma enorme amendoeira, coqueiros altaneiros. Ao domingo, a catequese; ministrada por matronas carrancudas — «nós damos graças ao senhor». Pouco depois, desentender-me-ia com ele por causa de um padre que, no dia da minha primeira confissão, vi pontapear um cão no adro da igreja.

O campo de concentração, colónia penal, presídio — o gulag português. Fica bem dizer que era só para comunistas, essa seita que trincava infantes ao desjejum, e turras que chacinavam os filantropos brancos, esses que lhes haviam levado a fé e a civilização. No mínimo, uns ingratos. A sua imponência dominava todo o plaino onde fora implantado. Perto, a granja nova; onde, placidamente, laboravam os internados. Perto, a lixeira, onde, à terça-feira, aguardávamos a chegada da carroça do lixo puxada por dois majestosos bois, maio e pinto. Recordar o meu primeiro brinquedo, um saxofone de plástico, oferecido por um preso de nome Gabi. Comunista de vila velha de ródão. Onde o tejo entra em portugal, disse-me. Moço feito, nunca fui verificar no mapa — bastou-me a sua palavra.

Nas matas da guiné, o império desfazia-se fragorosamente ao impacto dos mísseis stela. Mas nós continuávamos a salmodiar o portugal uno de minho a timor, os rios da metrópole e seus afluentes; as linhas férreas, estações, apeadeiros e ramais; os acidentes geográficos e a altura da serra da estrela.Porém, nada sabíamos do vulcão do fogo ou do pico d´antónia........LEIA MAIS

1 Comments:

Anonymous Anónimo fla ma...

Não concordo com o comentario dos nossos amigos. Este tema é bastante actual e há que chamar atenção para este problema. Por favor sejamos serios e deixemos de utilizar palavroes, nos comentarios. A civilidade começa por aqui...

1:03 da tarde  

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