quarta-feira, abril 06, 2005

Lela Violão no CCP

Lela Violão pertence à Velha Guarda do Violão. Literalmente. Aprendeu a tocar, de ouvido, e há 62 anos que o seu percurso pessoal se confunde com a do seu violão, instrumento que lhe confere o nome artístico. Nho Lela é um verdadeiro baú de histórias, umas alegres outras mais amargas. É a única pessoa que conheço que tem boas recordações das roças de S. Tomé, onde acabou por perder um dedo, num acidente. “Eu tocava para os trabalhadores e para os patrões. Cheguei a ensinar música a uns moços crioulos e num dado natal, acabamos por animar a festa em Casa do Governador” - é uma das muitas histórias que se pode ouvir deste senhor do Violão, do alto dos seus 76 anos.

Aprendeu a tocar na gatxadu, porque o pai não gostava de tocadores, que tinham má fama na altura. “Eu saia escondido para tocar, nos badjos, por uns tostões, e um belo dia a minha madrasta descobre. Ela me disse que se lhe desse metade dos meus ganhos, ficaria de bico calado. Fizemos um acordo”. É assim que a chantagem ganha contornos pitorescos, até porque Lela Violão pôde tocar à vontade em tocatinas e badjos. Quando o pai descobriu, já era tarde.

Nesta quinta-feira, Nho Lela estará em palco, no Centro Cultural Português da Praia, acompanhado de Betina Lopes, Hélder, Kiss e do violinista suíço Martin Schaffer. Além de composições próprias, Lela Violão irá revisitar Ano Nobo, B. Léza, Manuel D´Novas, Frank Cavaquim, Vuca Pinheiro, entre outros. A noite dos Mestres começa às 19 horas.
Desde 27/11/2004