terça-feira, maio 03, 2005

Uma viagem para lá de Alcatraz

Depois de “Identidade”, lançado em 2001, Viriato de Barros prepara-se para lançar um romance. “Para Lá de Alcatraz” é uma reconstituição ficcionada do percurso de um jovem cabo-verdiano, da ilha do Fogo para o mundo. O primeiro obstáculo é o mar de Alcatraz. “Sabe aquele mar sempre turbulento ao largo da ilha do Fogo quando se viaja para Santiago, onde todo o viajante pago o tributo ao mar, "mariando" sem brincadeira, para depois calmamente ter a alegria de chegar a Ribeira da Barca e seguir pela costa da ilha até a Praia de Santa Maria?”, questiona o autor.

Claro que sabemos. Certa vez, minha avó, natural da ilha do Fogo, disse-me que muita gente tinha medo daquele mar. É como se para muita gente, que nunca transpôs aquela turbulenta fronteira marítima, Alcatraz fosse uma barreira. Mas no romance, a viagem “para lá de Alcatraz” simboliza a grande viagem para o mundo e o choque cultural sofrido pelo ilhéu aventureiro. “Esse confronto com outras realidades dá-lhe uma nova dimensão da sua própria terra e do povo a que pertence pela qual e só pelos quais se reencontra a si próprio. Entre as realidades com que se confronta este jóvem cabo-verdiano, levado pelas circunstâncias até Moçambique, onde vigorava um regime chamado de indiginato, ressalta o racismo que assumia naquela antiga colónia portuguesa uma das suas formas mais aviltantes, e do qual era principal objecto o próprio moçambicano”, explica o autor.

Viriato de Barros é escritor, jornalista, professor de Inglês e Alemão, licenciado em Filologia Germânica. Nasceu na Vila Nova de Sintra, Ilha Brava. Na infância, por causa das transferências do pai, médico, viveu entre as ilhas do Fogo, S.Vicente e S. Nicolau. Uma dinâmica que atravessa toda a sua vida: estudou e trabalhou em S. Tomé, Moçambique, Alemanha, Portugal e Cabo Verde. Hoje, reside em Lisboa e colabora no Centro de Estudos Multiculturais da Universidade Independente.
Desde 27/11/2004