ET IN ARCADIA EGO
Lápides e torres. P'lo fumo
coalescendo em tua garganta
ou p'lo murmúrio do papagaio
afinando seu repertório de injúrias,
sabes que é manhã.
Luz concebida para a morte.
Como esse azul que a distância esboroa.
Jamais o céu negríssimo pulsando
na gasta moldura da janela.
Tu, bípede que magnificaste esse vítreo
antiquíssimo esplendor, como anunciar
agora pelos desdoirados cimos
a insonora implosão das arcádias?
Recomeça onde o ar lastrado
dizer-te não possa desse dia em que,
esmaecido, o desejo ainda canta:
sem coercivo modelo
a vigiar o horizonte da representação,
todo o defeito é arte.
José Luis Tavares, in "Agreste Matéria Mundo"
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