Reinado: uma morte anunciada
Uma Crónica de Jaime Rodrigues•
O Reinado, uma tradição cultural típica da Ilha do Fogo, corre sério risco de desaparecer. Assinalada anualmente de 6 de Janeiro até ao dia das Cinzas, a tradição que é transmitida de geração em geração, está condenada ao abandono devido à não envolvência dos jovens. A origem do Reinado é um pouco duvidosa e poderá estar ligada à comemoração da festa dos Reis em Portugal. Nenhum dos homens envolvidos no Reinado sabe explicar ao pormenor a origem e a data da sua introdução na Ilha do Fogo, embora alguns considerem que esta tradição esteve ligada ao peditório para a construção da antiga Igreja Matriz de São Filipe - o que, pressupomos, aconteceu há algumas centenas de anos.
Antigamente, os Reinados eram constituídos por grupos de homens, três ou mais, católicos e praticantes, que andavam por toda a ilha, durante três luas, pedindo ajuda a favor da Igreja. Os Reis reúnem-se no dia 6 de Janeiro, na Igreja Matriz, onde assistem a uma missa, depois da qual cada Reinado segue o seu próprio itinerário, dando volta à Ilha. Cada um tem uma Santa como patrona - antigamente, as Santas eram recolhidas na Igreja no final do Reinado, mas hoje são guardadas em casa.Em outros tempos, a festa era assinalada com algum brilho. Segundo um dos Reis, costumavam e sair da Igreja Matriz 24 grupos de "reinados", constituídos por três ou mais homens. Mas hoje, está condenada a desaparecer, são poucos os que, de casa em casa, andam cantando os seus terços. Muitos Reis morreram e a pouca participação de jovens - factores que determinam a "morte" do Reinado na Ilha do Fogo.
• Jaime Rodrigues é jornalista da Inforpress, na Ilha do Fogo.
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